Senhores da Guerra

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No último domingo à noite, a Band apresentou no programa “Canal Livre” uma entrevista com alguns entendidos sobre a questão o oriente médio. Ali estavam um professor de história da Fundação Getulio Vargas, um professor de direito internacional (de origem libanesa) e um repórter cuja origem é israelense.

Em determinado momento do programa, o debate entre o libanês e o israelense esquentou. As vozes se alteraram e o debate tomou um tom dramático. Ambos relataram perdas de pessoas queridas no conflito que se alastra pela região.

– Os israelenses atacaram a aldeia onde vivi minha infância, e mataram pessoas inocentes, caseiros na casa de meu primo, afirmou o libanês.

– Terroristas atacaram os kibutz e mataram jovens, sequestraram pessoas que estão presas até hoje, retrucou o judeu.

O debate continuou, e a palavra “narrativa” monopolizou a cena.

– A minha narrativa é diferente da sua, disparou o judeu.

– A sua narrativa é falida, retrucou o muçulmano.

Num momento seguinte, o professor de história tomou a palavra e falou sobre o jogo de xadrez que se desenrola na região. O primeiro ministro de Israel está politicamente debilitado e precisa da guerra para se consolidar. Grupos como Hamas e Hezbollah crescem com o conflito. O regime do Irã sofre oposição interna, e precisa da guerra para manter o poder.

Então, vêm as notícias. Israel ataca Gaza, Líbano, Iemen. Irã joga 180 mísseis em Israel. Milhares de mortes já foram contabilizadas.

À medida que vou envelhecendo, meu sentimento a respeito do milagre e da fundamentalidade de estar vivo cresce. Percebo com muita clareza que a vida é tudo que temos. Então, enquanto os líderes desses povos atacam daqui e dali, e traçam estratégias para manter o poder, pessoas comuns morrem. E perdem o que é mais precioso, a vida.

Os dois personagens principais do programa, que relatei, defendem seus povos. E os dois falavam verdades, embora verdades diferentes, e trazem narrativas diferentes. Ambos sentem-se agredidos e percebem a fragilidade da condição de seus semelhantes, por lá. Uma questão aparentemente insolúvel, mas causadora de dor e morte.

Tem uma canção de Bob Dylan, que por sinal é judeu mas que se converteu ao catolicismo, pelo menos durante um período de sua vida, e que se chama “Masters of War” (senhores da guerra). É uma canção de protesto contra a guerra do Vietnã. Um dos versos, traduzidos, diz mais ou menos “Tem uma coisa que eu sei/Mesmo sendo mais jovem que você/Nem mesmo Jesus perdoará o que estás fazendo”. E olha que Jesus é de lá.