CISMAS l Negócio desfeito

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        Sempre que me encontro com o amigo Pilhério, consigo captar muitos subsídios para as minhas conversas com vocês, aqui neste espaço.

        O Pilhério é uma fonte inesgotável de novidades, de casos característicos, de relatos engraçados, tal qual aquele que ele vinha de ônibus para a cidade e uma senhorinha estava a dar de mamar para o seu bebê.

        Lembram?

        Pois o menininho não queria mamar e a mamãe foi taxativa com ele: – Se tu não mamar eu vou dar para este senhor!

        Casualmente era o Pilhério que vinha sentado ao lado, ao que respondeu de imediato: – Obrigado, senhora, mas eu comi melão agora no café!

        O Pilhério é um cara de bem com a vida, graças a Deus.

        Amigo de longa data.

        Recentemente me contou um negócio que ele estava fazendo e não deu certo.

        Aliás, foi no fim, na hora de fechar as contas que o negócio foi desfeito.

Pois me disse que ele tem um vizinho que é de poucas palavras e sempre direto naquilo que diz.

Brabo que nem um Conepatus Chinga, mais popularmente chamado de zorrilho.

Ou azedo que nem limão bergamota.

Pois o vizinho ofereceu para o Pilhério um rádio Telefunken, relíquia da família, daqueles portátil, com antena enorme e de seis pilhas médias.

Lembram daqueles Telefunkens?

Eram quase do tamanho de um toca-discos, contudo eram realmente bons, pois pegava até a BBC de Londres.

Fantásticos.

Sempre os vi com uma certa reserva porque utilizava-se nele nada mais, nada menos do que seis pilhas médias.

Haja bolso para sustentar um dinossauro desses.

Ainda mais que, naquela minha época, as rádios de Montevideo eram as nossas preferidas, principalmente a rádio El Carve, onde na madrugada tocava só MPB.

Imagina esse Telefunken de seis pilhas ligado a madrugada inteira?

Pois o Pilhério estava inclinado a ajudar o vizinho Limão Bergamota e, até ia comprar o rádio, contudo, na última hora desistiu.

E, me disse ele (o Pilhério), que não foi por causa das pilhas não.

– Mas amigo Pilhério, por que então não comprastes o rádio do homem?

– Sabe, Carretta véio, o vizinho é meio “sincerão” demais. Ele não tem papas na língua e não atura mentiras.

– Aquilo que ele diz é sempre brabo e sem paciência.

– Então, na hora de fecharmos o negócio, eu caí na asneira, ou melhor, tive a felicidade de perguntar para o “zorrilho”, porque que ele estava vendendo o rádio.

– Curiosidade, né Carretta véio, pois o Limão Bergamota é sincero e não ia me mentir.

– Por que que tu achas que eu tô vendendo o rádio, imbecil?

– Sei lá… – respondi já meio encabulado, Carretta véio.

        E a resposta veio de pronto e aos gritos:

– Tô vendendo porque este rádio é uma merda e não presta mais!

– Desfiz o negócio, Carretta véio, cismado porque até hoje eu não sei se o rádio presta ou não presta…eita hômi brabo esse…credo…