CISMAS l O tratado

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“Quanto mais o tempo passa, mais eu percebo que não quero mais dramas, conflitos ou estresse…

Eu simplesmente quero um lugar calmo para viver, em bom copo de vinho e pessoas boas para compartilhar humor.”

Não fui eu quem pensou ou escrevi isso, mas, assino em baixo sem nem mesmo pestanejar.

Aliás, eu gostaria muito de assinar um tratado com o Criador, para que tivéssemos muita paz depois de uma certa etapa da vida.

Artigo I – parágrafo primeiro – nova linha e letra maiúscula:

“Eu, Seu DEUS, determino que, todo o meu filho ou minha filha, a partir de 65 anos de idade, vai ganhar a paz e a tranquilidade para desfrutar de sua vida restante, até o momento em que Eu venha solicitar a sua presença junto a Mim.”

Revoga-se todas as emendas, sonetos e teses contrárias, salvo ao Meu Juízo.

Ass. Deus do Universo e de Todas as Coisas

         Justíssimo, Senhor.

        Fecho agora com Vossa Divindade.

        Obrigado!

        E assim, com toda a certeza, viveríamos bem mais felizes, com muito mais otimismo e vontade.

        Mesmo os dias cinzentos e depressivos, estariam riscados do nosso calendário, a cerração sombria que desce das encostas da serra seriam bênçãos de orvalho e, sim, a vida seria um grande sorriso, depois dos 65 anos.

        Mas por que 65 anos?

Sei lá, talvez porque eu esteja chegando lá e, querendo puxar brasa para o meu assado, e tenho assim imaginado, mas também porque ninguém merece depois de uma certa idade, certos incômodos da vida.

Tenho cismas com isso.

Mesmo que já tenhamos passado por poucas e boas, ainda o nosso dia a dia cada vez mais nos surpreende e, não nos dá nem um pouco de trégua, na caminhada.

É a vida diriam uma grande gama de pessoas…só que neste momento, discordo totalmente do Gonzaguinha, pois ela não é bonita, não é bonita, não é bonita…não assim, desse jeito de olhar de moça criança mal-educada.

Indiferente a credo, raça, classe social, eles os incômodos estão à nossa espreita e, rouba-nos mais alguns dias de nossas vidas, a cada dia, a cada momento que deixamos de estar em paz.

…a vida é muito mais um lamento e, só fica bonita, bonita, bonita… na mesa de um bar, rodeados de amigos e um “louco desvairado e notívago” (isso é maravilhoso) na frente de um microfone gritando para você e seus comparsas:

– Comigo, todo mundo cantando!!…” viver e não ter a vergonha de ser feliz…”

        Junte-se a tudo isso uma cintilante taça de vinho, porque ninguém aqui é hipócrita de negar isso.

Aí ela, a vida, é muito linda.

        Passado a festa, vêm as coisas tudo iguais, te sacudindo às seis horas da manhã, com o seu ritual de atribulações.

        Ah, se eu puder falar com Deus…

        Vou pedir licença, fazer a reverência e, do meu súdito púlpito, pedir clemência para todos nós com mais de 65 anos.

        Dentro do meu tratado, não haveria mais certas coisas que ainda se apresentam em nossa frente.

        Resolver não é a questão…a questão está, se pudesse, em elas, as certas coisas não existirem.

        …e por toda a vida, milhões de alegrias teriam que ser, diferente a gente iria viver…

        Mas para quê sonhar? Viver num mundo de esperanças…?

        Sinto muito, tentei, mas temo, infelizmente, que o tratado não vai nem a plenário.

        E a vida? E a vida o que é? Diga lá meu irmão…