História de Táxi

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Essa é uma história que ouvi por aí

Foi assim, um chamado tarde da noite para uma viagem até a outra cidade. Era caso de morte na família. Não me agradam essas corridas. Primeiro que não gosto de viajar de noite, ainda por cima ida e volta. Segundo, o ambiente que fica no carro.

E estava pesado. Era pai e mãe chorando baixinho. No colo dela, uma criança pequena, sei lá, um ou dois anos de idade. São momentos pesados, a gente não sabe o que falar, e eu não sou muito bom em consolar pessoas.

Tentei engatar umas conversas, sobre a estrada, o frio, as enchentes que estão tirando tanta gente de suas casas, mas não tive muito sucesso. O homem respondia, eu emendava, mas o assunto estava sempre meio parado, as respostas sempre curtas e acompanhadas de fungadas.

Assim foi, até que lá numa altura da viagem o bebê começou a conversar. Na língua dele, pois por pequeno ainda não sabia articular palavras.

– Tá tá, tê-tê, tá tá tá. E mais umas vezes repetindo, formando quase que uma melodia.

Foi como se um anjo entrasse no carro, aliviando os adultos do peso daquela viagem. Me fez tanto bem que me vi respirando fundo, soltando os ombros e encarando a corrida com muito mais leveza e tranquilidade.

Reparei que meus passageiros também respiravam aliviados, e penso até que dormiram, junto com a criança, que estava dormindo quando chegamos ao destino.

Voltei tranquilo, ainda que cansado. Até hoje penso nisso, em como, às vezes do nada, surge um não sei que inesperado e faz as coisas melhorarem. E abençoadas sejam as crianças, que trazem essa leveza à vida.