Telefotorama

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Ponta Grossa é um bairro de Porto Alegre, próximo a Belem Novo. Na minha família, foi considerado quase um tio mais velho, por causa de um terreno que veio desde meu tataravô. Nesse terreno, que dava para o Guaíba, gerações passaram inesquecíveis temporadas de verão.

Pois bem, no bairro da Ponta Grossa a Rádio Farroupilha ergueu uma torre retransmissora, lá nos idos de 1950. Essa rádio é um marco no Rio Grande e possuía uma frequência única mundial, os 600 KHz.

Entre os parentes que vivenciaram a Ponta Grossa tenho um em especial, a quem chamei de Trimo. Hoje já é um homem madurão, mas mantém o espírito jovem e aventureiro de sempre. Vem a ser filho da irmã de minha avó, por isso mais perto de tio, mas por razões obvias tratado como um primo.

Recebo uma mensagem desse Trimo: “um dia, quando estávamos voltando da Ponta Grossa para Porto Alegre, a tia Nelly (minha avó), quando passamos em frente a torre da farroupilha, falou: – um dia o rádio também vai transmitir imagens.” A frase foi proferida logo após a inauguração da tal torre, e meu trimo tinha uns 6 ou 7 anos de idade. Foi uma profecia que marcou o menino, pois a primeira televisão só apareceria anos depois.

Comentando o assunto com meu irmão, recebi outra informação desconcertante: – A Vó nunca te falou que conheceu o Padre Landell de Moura? É verdade, e sinto orgulho em pensar nesse encontro. O Padre foi o inventor do rádio. Embora o mundo não aceite o fato e os italianos teimem em afirmar que foi Marconi, a verdade é que nosso Landell de Moura começou antes, e já trabalhava com transmissões sem fio de som e telegrafo antes de entrar o ano de 1900.

Dois fatos comprovam essa amizade de minha avó. O primeiro que o Padre era portoalegrense, como ela. O segundo, que foi pároco no bairro do Menino Deus, onde a família dela residia na sua infância e adolescência, isso nos anos 1920, mais ou menos.

Além de estudos com radiotransmissores, o Padre Landell de Moura estudou homeopatia e parapsicologia, mas destacou-se mesmo pelas transmissões sem fio. Ao aparelho que reproduziria imagens transmitidas sem fio deu o nome de “telefotorama”. Provavelmente seu não reconhecimento mundial deva-se, também, ao pequeno volume de memórias impressas de seus estudos. Contam que um bispo paulista, ao ouvir vozes que chegavam “sem ninguém falar” decretou que tais eram vozes do além, o pessoal começou a desconfiar que o rádio do Padre falava com o diabo, e ele se viu forçado a destruir parte de seu trabalho, assim como a terminar seus dias esquecido do público.

Nos meus verões de Ponta Grossa não havia energia elétrica. Nem telefotorama, muito raramente ouvi rádio. Mas estava ali, quase na sombra daquela torre histórica, vivendo próximo de minha avó, que em criança conheceu pessoalmente um ícone do mundo atual. O Padre Landell de Moura, embora hoje não reconhecido, produziu experimentos que foram utilizados pelo italiano e outros famosos que hoje levam a fama de inventores das telecomunicações.