Vivendo e aprendendo a jogar

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Tenho um amigo com facilidade em idiomas. O método dele é assim, ele disseca as línguas. Aprende verbos, pronomes, adjetivos, e vocabulário. Parece que enxerga a estrutura de expressão das pessoas. E isso me admira muito. Porque eu, nas línguas, ouço o som. Gosto de ouvir as palavras, que são muito misteriosas para mim.

Vou dar um exemplo. Num filme que assisti, tinha um senhor que expressava sua admiração com  “Holly molly”, em inglês. O som dessa expressão é, mais ou menos, Hôuli moli. Depois, encontrei um senhor em Encruzilhada que dizia “Ala maula”. Mas que coisa, pensei, um aqui e outro lá no cinema, expressando o mesmo sentimento com expressões quase iguais. Donde, concluí, as línguas surgiram depois da necessidade de dizer as coisas.

O que não é nada, porque para falar as línguas, o método do meu amigo é eficaz, e a minha admiração não ajuda em quase nada.

Esportes. Tenho outro amigo que é atleta. Veterano. Tem facilidade em qualquer esporte. Também disseca os jogos. Tem habilidade, claro. Corpo adequado, capacidade pulmonar, vitalidade. Mas parece que entende o objetivo. E sempre segue o caminho mais curto para a vitória. Não cometer erros, encontrar as deficiências do adversário ou time adversário.

A mesma constatação vale para os jogos de cartas e para os negócios. Uma questão de talento e disposição. Capacidade de dissecar estratégias, mercado, consumidores. Uma coisa é criar um produto, outra bem diferente é produzir algo que seja desejado pelos outros.

E nos amores? Conheci pessoas capazes de conquistar. Perceber o que aquela outra pessoa, objeto de seu desejo, quer, e ser isso. Bem. Paremos por aqui. Nem tudo é jogo. Porque no amor sempre são duas pessoas, e até onde percebo, quando empatam somam pontos, e os dois ganham.

Enfim, jogos são jogos e habilidades são habilidades. No jogo da vida, uma boa estratégia está bem ligada à habilidade de prolongar o jogo, e passar por ganhos e perdas para, no somar do tempo, juntar muitas histórias para contar.