Criatividade e Rebeldia

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Outro dia, no rádio, ouvi uma entrevista meio estranha. Eram dois músicos, um deles tocador de violino. O outro, guitarra elétrica. Apresentavam um projeto de execução de algumas músicas do compositor Antonio Vivaldi. No projeto, apresentam-se da seguinte forma, um executa determinado trecho de uma composição no violino e o outro na guitarra.

Vivaldi foi um compositor clássico que viveu entre os séculos XVII e XVIII. O resultado foi uma coisa que, confesso, não gostei de ouvir. Não soou bem na guitarra elétrica a obra do italiano, famoso pelas “Quatro Estações”. Enquanto tocavam, na entrevista, falavam sobre a música contemporânea. Claro, sobre a guitarra elétrica e o Rock and Roll, que popularizou o instrumento. Segundo os entrevistados, o Rock é um gênero mais pobre que as obras clássicas da música e seus instrumentistas, mais fracos tecnicamente que os eruditos.

Não posso discordar, não entendo disso. Mas, enquanto ouvia, lembrei do grande poeta Vinícius de Moraes. O poetinha foi duramente criticado pelos intelectuais da Academia Brasileira de Letras. Segundo eles, Vinícius deixou de ser um grande intelectual para ser compositor de samba e bossa nova. Tenho minha teoria. O que aconteceu foi que o homem Vinícius optou por estar na boemia, bebendo uísque e rodeado de belas mulheres, paixões de sua vida. Optou por fazer sucesso onde lhe interessava.

Mesmo abrindo mão da intelectualidade, o que criou nos encanta a todos.
E os clássicos da música? Que opção fariam Beethoven, Lizst, Chopin, se vivessem nos dias de hoje? Lembro do filme “Amadeus”, onde o jovem Mozart esculhamba com uma composição de Salieri, seu rival na corte. A cena tenta demonstrar o quanto o jovem músico era habilidoso, criativo e rebelde. Quem sabe não faria duetos com esteios do Rock como Jerry Lee Lewis.

Ou mesmo Vinicius comporia letras com Rita Lee ou Raul Seixas.
Quem pode saber?

O que pode unir essas brutais impossibilidades de épocas, costumes, instrumentos e mídia são a criatividade, a rebeldia e a quebra de paradigmas. O Rock representa uma ruptura, o berço da arte pop. Meninos descobriram os instrumentos elétricos e inventaram coisas com eles. Algumas belas, outras nem tanto. Os clássicos, dos séculos XVII a XIX, também. A humanidade construía instrumentos maravilhosos, salas de audição perfeitas. E eles criaram obras magnificas.

Escrevendo essa “narrativa”, penso que Bach, Vinícius, roqueiros e o primeiro homem que pegou um pedaço de pau e usou como ferramenta têm algo em comum. Criatividade. Tomaram o que havia disponível e fizeram algo com isso.