O BAILE ERRADO
– Mas e que tal, amigo Pilhério, quanto tempo que não te vejo?
Pois dia desses encontrei meu velho amigo Pilhério que de muito não o via.
– Bah, Carretta véio, também, com aquele monte de chuva e agora com este frio, tô que nem caramujo, só fico em casa.
– Ainda bem que eu piquei um cerro de lenha…
– Aliás, Carretta véio, eu tinha prá te contar uma história que um amigo de um outro amigo da minha comadre contou, que é sensacional e não achava jeito… (também, a gente fazia tempo que não se via).
– Prá tu contares lá naquele teu jornal.
– Pois é, Pilhério, embora eu até seja fundador do Jornal 19 de Julho, mas ele nunca foi meu, contudo, colaboro desde a sua fundação com as minhas colunas por lá.
– Sim, eu sei, Carretta véio, pois sou teu leitor assíduo, tu sabes disso e, inclusive, já li por lá algumas peripécias que eu mesmo te contei, não é verdade?
– Muita da verdade, amigo Pilhério, pois tu és, prá mim, uma fonte de histórias, de causos e, mais ainda, quase todas são plenamente reais, são fatos merecedores de um registro, e é o que eu faço, tu sabes disso.
– Mas então, Carretta véio, podes ter certeza de que eu só te conto coisa de verdade, como aquela das caturritas lá da tua terra, te lembra?
– Claro que sim, pois foi quando tu dissestes que as caturritas levantaram voo e junto com elas arrancaram um eucalipto de sessenta e tantos metros de altura, com raiz e tudo…
– Pois é, Carretta véio e, desta vez, eu vou te contar esta história que se trata deste “cuera” que disse ser do amigo de outro amigo de uma comadre minha…
– Dizem que o guasca véio era um baita dançarino, aliás era não, ainda é, pois ainda tá vivo prá contar esta história.
– Baile? Baile, não tem nenhum nesta querência e em outras que ele não deixe de ir.
– A pobre da prenda dele já sabe que, se vai no baile, é a primeira a começar a dançar e a última, pois enquanto a acordeona tocar uma só nota musical, o guasca véio tá dançando e não quer nem saber: baile e baile.
– Famoso “pé-de-valsa”, Carretta véio.
-Mas, então, o guasca é viciado em baile?
– Tchê, Carretta véio, tu nem imagina…aliás, os teus leitores nem imaginam…na mesinha de cabeceira dele já tem a mão aquela pomada famosa: “canela de velho” …repara só…
– E não tem querência para ele, Carretta véio, pois duma feita, o cuera foi prás praias lá em Santa Catarina e, passou-se um ou dois dias e ele não se aguentou.
Avisou a sua prenda (esposa dele, diga-se de passagem), que iria procurar um fandango por aquelas paragens, pois já estava com comichão nas solas dos pés.
– Infelizmente, procura daqui, procura dali, não achou nenhum baile para se divertir e, então, convidou sua esposa para ir jantar numa noite quente, romântica e convidativa.
– Como muitos de vocês conhecem as praias catarinenses, é só olhar para o lado oposto da praia e já se enxerga os morros das localidades catarinenses e, foi num desses justos morros que nosso amigo bailarino visualizou uma luz vermelhinha piscante, lá em cima.
Não deu outra: – mulher véia, lá tem baile e é prá lá que nós vamos.
– Pois não é que jantou e se mandou a la cria para o baile?
– Estacionou o carro apressado, escutou a música e, louco pelo fandango, adentrou ao recinto, ajeitou uma mesa prá largar seus apetrechos e já sacou a mulher véia prá dançar, faceiro que nem ganso novo na taipa do açude, em dia de garoa.
– Baile prá cá, baile prá lá, passo marcado, vaneira bem dançada, um chamamé sacolejado…foi quando sua esposa, sutilmente, lhe sussurrou no ouvido:
– Fulano? Aqui não é baile daqueles que nós estamos acostumados a frequentar…
– Mas o que houve, mulher véia?
– Tu já reparou no traje das moças do baile, por exemplo?
– Pois Carretta véio, ele na sua euforia de dançar uma marca, bailarino de primeira que é, nem botou reparo nos frequentadores e frequentadoras e, foi quando olhou e, logo, se espantou.
– Os moços, Carretta véio, estavam meio ávidos em se engalfinhar com as moças nas danças e as moças, usavam uns maiôs pequenos e bem enfeitadinhos, outras um biquini fio-dental e aí por diante…aliás, as moças eram muito bem-educadas e até no colo dos moços elas se sentavam para lhes agradar… e fazer um carinho.
– O homem se desesperou…afinal de contas o que a mulher dele iria pensar numa situação daquelas…cretino, sem-vergonha, ordinário ou desatento?
– Bah! Não se sabe, mas é certo que foi no baile errado!!
– E, tchê, Carretta véio, além do caso ser muito verdadeiro, o guasca ainda tá vivo prá confirmar o fato.