Não sou o mais feliz do mundo

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A manchete da notícia: “O homem mais feliz do mundo diz que se livrar dessas 3 coisas faz qualquer um ser feliz”.

Opa, que 3 coisas são essas? Está ali, na notícia: ódio, ciúme e orgulho. E eu pensando que eram dívidas, violência e doença. Mas, bem lembrado, não sou o homem mais feliz do mundo.

Donde surgem questões como “que homem mais feliz do mundo é esse?”, “felicidade sempre?”.

O homem chama-se Matthieu Ricard, e é um francês que estudou genética molecular, mas que, aos 26 anos, abandonou tudo para se dedicar ao Budismo Tibetano. Vive no Himalaia, escreveu uma porção de livros e deve ser muito feliz, porque foi voluntário num teste de uma universidade norteamericana onde foi constatado que seu cérebro produz um nível de ondas gama nunca antes constatado pela ciência. Graças a meditação, ele tem uma capacidade incrivelmente anormal de sentir felicidade e uma propensão reduzida para a negatividade.

Pronto. E agora? Pensei que era porque não sentia ódio, orgulho e ciúmes. Bom, então deve ser essas três coisas e mais meditação.

Ou será porque o sujeito nunca casou e nunca teve filhos. O que me conduz ao egoísmo, porque penso que quem vive assim sozinho deve ser muito egoísta.

Então será que egoísmo conduz a felicidade? E felicidade é uma espécie de egoísmo? Uma vez, numa situação bem desagradável, encontrei algumas pessoas meditando. Enquanto todo mundo presente no local sofria, os meditantes pareciam totalmente alheios, como se preferissem se isolar dos sentimentos que eram evidentes no local. Achei isso egoísta da parte deles.

De acordo com o monge Ricard, felicidade está ligada a liberdade interior, que significa estar livre de traços mentais e reflexões que, eventualmente, se traduzem em frustração e sofrimento. Puxa vida, com todo o respeito, me sinto obrigado a não concordar com isso. Minha vida está cheia de sofrimentos, perdas, frustrações. Porque acontecem e porque tento. Experimento o tempo todo um monte de coisas, e muitas vezes dá errado. Mas outras vezes, dá certo. Aí é maravilhoso. Então concluo que ciúmes, orgulho, ódio, frustração, fome, medo, prazer, alegria, sono, amor, tudo faz parte. Se, para ser a pessoa mais feliz do mundo, preciso reprimir parte dos sentimentos genuínos do ser humano, então me contento em ser este ser atravessado que sou.