Esses termos, déficit e superávit, são de fácil compreensão. Déficit significa gastar mais que ganha, e superávit o contrário. Vale na economia, vale no clima. No inverno, o Rio Grande viveu um superávit enorme. Quer dizer, a água que caiu superou a capacidade da terra de retê-la, e dos rios, de escoá-la. Resultado, enchente e destruição. Foi um enorme superávit hídrico.
Agora, vivemos um enorme déficit hídrico. Aqui em casa, tem um açude, e na margem desse açude construí um trapiche. Consta de uns postes deitados sobre estacas e, em cima destes postes, tábuas pregadas. No inverno, com as chuvas, a água chegou até os postes deitados. O açude estava cheio e soltando água pelo ladrão, cujo nível é o mesmo dos postes. Ainda ontem estive ali, dando uma olhada. A água está, agora, nas estacas, uns quarenta centímetros abaixo do nível dos postes.
Essa diferença de nível da água representa o déficit hídrico do meu açude. Quarenta centímetros, ou quatrocentos milímetros. É verdade que os corpos dágua perdem mais água que a terra, mas não deixa de ser verdade que deveria ter chovido muito mais, desde o inverno, para que minha água não se alterasse.
Estamos, novamente, passando por estiagem. Seca. Poucos meses depois da maior enchente que já atingiu o Estado. E é preciso lembrar que, antes das chuvaradas, havia um movimento forte de relaxamento de algumas leis ambientais, com o objetivo de construir-se mais estruturas para contenção de água, a ser usada na agricultura. O movimento foi suspenso porque, no inverno, a opinião pública mudou. Não se falava mais em conter a água, e sim, em mandá-la embora.
Agora, certamente vamos ouvir novamente clamores exigindo contenção de água. Só em Encruzilhada do Sul, as perdas no setor agropecuário já estão estimadas em 153 milhões de reais. Essas perdas representam, pelo que estimei a partir de uma notícia que li, algo como trinta e tantos por cento da produção total.
Puxa vida. A margem financeira da produção rural é muito menor que essa porcentagem, então os produtores de Encruzilhada do Sul amargarão prejuízo na safra que está em curso. Os produtores viverão déficit financeiro.
Por outro lado, se o valor representa trinta e poucos por cento, ou um terço, então se pode estimar o dobro disso, ou uns 300 milhões de reais de dinheiro produzidos no setor rural do município, nessa safra. Com seca e tudo.
São essas coisas que a gente vê e custa a entender. Por que, afinal de contas, com todo o avanço da civilização, ainda sofremos com déficit e superávit hídrico?. Como pode que o pessoal que realmente está produzindo viva sucessivos anos de déficit e mesmo assim se produza tanto dinheiro. Onde vai parar todo esse recurso?