É muito arroz

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White rice in burlap sack bag isolated on white background

 Meu amigo Pilhério anda bastante afoito, me parece.

– Carretta véio, nem sei como começo a te contar esta história.

– Tu me acreditas que fico um pouco constrangido, mas tchê, a fonte é fidedigna, o fato em si foi confirmado e, há quem diga que eu devia te contar.

– Aliás, foi de um teu amigo donde me chegou o fato.

– Buenas, Pilhério. Pode deixar que, se a história é “verdadeira” e interessante, publico lá na minha coluna do 19 de Julho.

         Pois não é que a história é no mínimo curiosa e, desta vez, não aconteceu lá no Cantão do Abranjo.

         Os personagens, é claro que vão ficar anônimos, contudo, o contador do causo é mesmo um grande amigo meu e que, assina outras tantas histórias, já grafadas em livro a ser lançado.

         Esta, casualmente, se passa na Capital do Estado, e vem com a tarja em vermelho, “é verdadeira”.

         Todavia, ao meu juízo, está classificada entre os causos das ovelhas que cruzavam as cercas de arame por baixo, se arrastando, o carneiro que atravessava o mata-burro de joelhos, o cordeiro mamão que pensava que era um cachorro…

         Este Abranjo já era famoso, imaginem agora…

         Têm algumas que não lembro, pois são tantas, mas acho que já lhes contei também a do lampião de carbureto que depois de uma enchente foi parar nos galhos de um “çoita”, os dourados que pulavam para dentro das canoas, a cobra que corria as pessoas…

         Pois é, nosso Cantão do Abranjo é repleto de boas histórias e, que, modestamente venho catalogando em livro que em breve, haverá de estar à venda nas melhores livrarias.

         O nome do livro não poderia ser outro, ou seja: “O Palco É Pequeno…”

O importante é deixar registrado, nem que seja para que este valioso folclore popular não caia no esquecimento.

         Mas, voltando “a vaca fria”, o assunto de hoje refere-se a comida, e os insaciáveis, que me foi contada pelo grande amigo Pilhério.

         E assim se repassa…

         Não que seja alguma novidade, longe disso, pois convivem entre nós pessoas que de certa feita comeram mais de 20 ovos de codorna de uma sentada e, depois, ainda aproveitaram e muito bem o espeto corrido da churrascaria.

         Tem outro que possui a máxima de que o estômago não sabe o horário, pois não distingue dia ou noite e, no jantar, come mais de três pratos de comida e, foi assim a vida inteira.

         Conheço outro que almoçava e, logo após a refeição, tinha a capacidade de tomar uma xícara de café com leite, pão e manteiga.

         Outros três que, logo que foram inventados os rodízios de pizzas nos restaurantes em Porto Alegre, acabaram com um justamente no dia da sua inauguração, de tanto que comeram, dando um enorme prejuízo aos proprietários e, daquela vez em diante nunca mais fizeram rodízio ali.

         Um amigo que ao se servir pela primeira vez, era só arroz com feijão, pois o bife ficava para a segunda servida, uma vez que não cabia no prato da primeira vez.

         E, assim, tantas e tantas outras história que existem por aí.

         Mas, a de hoje se passa com um estudante universitário, que era considerado um rapaz muito bom de garfo, como se diz na gíria.

         Foi morar com sua tia e, a cada refeição, dava um prejuízo danado, comendo praticamente tudo o que lhe era servido e mais um pouco.

         De uma certa feita, a tia vendo que nada bastava para o seu sobrinho, lhe preparou naquele meio-dia, especialmente, uma lauta refeição, farta em todos os sentidos, esperando que o sobrinho não fosse dar combate ao prato que lhe foi servido.

         Pois, aos poucos, nosso estudante foi dando conta do recado, diante do espanto de sua tia e, findou a refeição com o seguinte comentário:

– Pois é, tia, hoje eu não estava com tanta fome… comi um cachorro-quente antes de vir para casa.

         Uns diriam que é coisa de gente jovem em desenvolvimento, outros haverão de concordar que quem mora na capital tem fome, é coisa de estudante, mas o certo é que este sobrinho ficou afamado por ser “muito bom de garfo”, tanto que o seu pai, encabulado depois dessa, remetia por mês, um saco de arroz (50 kg), para o sustento do filho, para compensação da casa e, que o filho comia tudo.

         Cinquenta quilos de arroz!!

         Por mês!!

– Eita, Pilhério véio!!