Li, notícia que dá conta de que o celular substituiu o cigarro.
Num primeiro momento não entendi muito bem a substituição, mas, depois, ficou claro e evidente, principalmente quando nos reportamos aos dias de hoje, onde estes aparelhos estão presentes em todos os instantes.
Tudo começou assim:
“Ela era muito linda.
Com toda a certeza a mais bonita de todo o bairro.
Uma morena de tirar o fôlego.
Seus cabelos sedosos brilhavam à luz do sol, compridos, caíam à meia cintura, valorizando seus já voluptuosos quadris.
As pernas, bem torneadas, eram o que completava seu andar de miss.
O rosto, bem, o rosto era uma combinação de olhos pretos da graúna, com um nariz extremamente bem torneado, e, uma boca sensual, onde o carmim do batom se sobressaía.
A pele era feita da mais pura seda, uma pele morena, sensível ao toque, pode apostar, e, que deixava a mostra sua origem.
Ela era muito linda, sem sombra de dúvidas.
Sentados em algum portal de uma casa qualquer, a meninada do bairro a via passar com o seu balanço peculiar, totalmente diferente de tudo e de todas.
Ela.
Morena impávida, tesa, descomunal.
Seus pés? Ah, seus pés! Pequenos, base para seus 1,79 m de um corpo escultural eram lindos, dedos uniformes, pintadas as unhas simétricas, se deixavam escorregar pela sandália entrelaçada nos seus belos tornozelos.
Ele, o mais afoito da turma, estava ávido por aquela conquista.
Não duvidávamos de sua capacidade de vencer.
Os tempos já são outros, vivemos numa época de que nada é impossível, tudo é perfeitamente realizável, afinal de contas estão aí as parafernálias da comunicação, por exemplo, onde ter um distante (põe distante nisso…) notebook que era para nós, trogloditas da informática, hoje é como um playmobil, lembram?
Ou um trem de lata de leite Ninho, que chamávamos de “rolo”, com eixo de arame e puxador de barbante encerado, que era para não rebentar tão fácil.
Pois é, os tempos mudaram.
Tanto mudaram que Ele, enfim, teve êxito em sua conquista.
Ela não era tão difícil assim, ou seja, não estava tão distante de um amor, de uma conquista, ela era também sensível, e, isso nós já sabíamos, mas, o que não sabíamos que a conquista iria bem mais longe.
Tudo caminhava para um epílogo feliz e, disso não tínhamos dúvida nenhuma.
Pois aconteceu.
Acontece com muitos.
Casaram.
A conquista chegava ao seu ápice, não tinha como não ser assim, ainda mais Ela, linda, esbelta, escultural, de quadris voluptuosos, lábios de um carmim incrivelmente sensual, e, olhos pretos da cor da graúna, atentos, vorazes, penetrantes, com os quais percebia os mais recônditos desejos.
Pois Ela e Ele chegaram ao matrimônio, e, acredito que não só chegaram, como também ultrapassaram os limites da normalidade, do trivial, do conhecido, do lido, do aprendido.
Com toda a certeza buscaram inspirações em Afrodite, a deusa do amor, da sexualidade, em Apolo, o deus da beleza, buscaram inspirações em si mesmos, acreditaram em suas capacidades de suplantarem o notório, o vulgar, enfim…
Assim deve ter acontecido.
Até aqui, tudo bem, mas o que teria tudo isso a ver com a comparação do celular X cigarro?
Pois, justamente tem a ver com a notícia que li e, que, devido aos tempos modernos, aos tempos longe do playmobil, dos trens de latas de leite Ninho, as coisas também mudaram e estão um pouco mais saudáveis.
Eis o veredito: os celulares substituíram o cigarro no “depois”, se é que me entendem…
Ao invés do tradicional cigarro, que, em épocas passadas era o caminho natural das coisas, agora, os parceiros vão em busca de seus celulares para checar e-mails, conferir o Facebook, e, se facilitar, twittar um pouquinho.
Nada de cigarro, o normal agora é o celular…é o que diz a notícia.