Com os votos no bolso da calça

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O acaso me fez mesário na primeira eleição com urnas eletrônicas. Presidente da mesa, que ficava e fica na Escola Dom João VI, no Vau dos Prestes. Não lembro que ano foi isso, no século passado com certeza. No milênio passado! Mas lembro que era eleição para Prefeito e os candidatos eram o Artigas e o Conceição.

Ainda era um processo bem arcaico. E o pessoal não tinha noção de como usar a tal máquina. É bom lembrar que poucos eram os telefones celulares naquele tempo, a internet ainda andava bem devagar e o pessoal tinha até medo de botões eletrônicos.

Para facilitar as coisas, foi colocada uma urna de papelão, que imitava a urna eletrônica, no bar do posto o Valdinho, ali na frente. Então, quem não era manso com o negócio, ia lá e treinava.

Bem, os candidatos tinham os números 11 e 12. O teclado da urna produzia um som, mas que não era igual em todos os algarismos. Assim, quem votava no Artigas produzia um “bi-bi” e quem votava no Conceição, um “bi-be”. Depois de uns três ou quatro eleitores votarem, nós mesários já sabíamos quem votava em quem. E quando entrava alguém com o boné do Artigas e produzia um “bi-be” os olhares corriam de uns para outros, muitas vezes com um sorriso de surpresa. A mesma coisa quando o eleitor fazia o contrário.

Mais difícil era o voto no vereador, porque tinha muitos algarismos. E o pessoal, já sabendo dos que mais tinham dificuldades, ficava na porta, assistindo e dando risada. Alguns pediam “pelo amor de Deus, vai ali comigo, eu digo quem é e tu aperta os botões para mim”. Pessoas com muito pouco estudo sofriam demais com a situação. Confesso que tinha vontade de resolver a situação, mas a prudência me impediu de tomar essas atitudes. Ainda bem.

Terminada a votação, a urna gerava um arquivo que era gravado num disquete. Para quem não é desse tempo, disquete era uma peça de plástico, com um disco magnético dentro, que fazia a função de pen-drive. Comparando as coisas, hoje o pen-drive mais barato grava informações que precisavam de quinhentos ou mais disquetes.

Os presidentes de mesa eram responsáveis pelo disquete. Um carro da prefeitura saiu pelo interior a buscar os arquivos. Mas demorou tanto, que resolvemos, eu e o presidente de outra mesa daqui, pegar um carro e levar os negócios na cidade. Fomos. Chegamos e o centro estava em festa, a eleição já estava decidida. E assim, naquele final de domingo, atravessamos a cidade com os votos de nossas urnas no bolso. Entregamos no centro de apuração, assinamos uns papéis e pudemos ir para casa.