Já faz algum tempo que tomei um grande susto aqui em casa.
Questão de uns dois ou três anos atrás e, estive muito cismado com isso.
Depois do acontecido, convivemos tranquilo, eu e ela.
Estava sozinho na sala vendo um jogo de futebol, quando escutei um barulho muito estranho que vinha da cozinha ou da garagem, não soube precisar bem de onde.
Um barulho com se um lamento fosse.
Minha adorável mãe, Dona Iolanda, sempre nos dizia que, ao escutar algum barulho estranho dentro de casa, a melhor coisa a fazer é ir verificar o que está acontecendo.
Por diversas razões, inclusive se for à noite, tenho a certeza de que se você não for verificar, não vai conseguir dormir direito.
É óbvio.
E, de mais a mais, dentro de algum fato diferente, você terá que tomar as devidas providências, não é mesmo?
Pois bem, lá estava eu vendo um jogo de futebol pela televisão, solito e Deus, quando escutei esse barulho…
Seguindo as orientações maternas, levantei-me e me pus atrás do que poderia estar acontecendo.
Escuta daqui, escuta dali e nada…
Voltei, sentei-me para continuar no meu lazer.
Não demora muito, tive a sensação de que escutei agora um grunhido, vindo do mesmo lugar.
Novamente fui verificar o que era…e não era nada, ao menos eu não percebi nada de anormal.
Abri porta da garagem, espiei para fora, abri porta do banheiro da garagem, nada, fui à lavanderia, também nada.
Retornei.
Passado mais alguns minutos, agora era um cocoricar pela metade, como se tivesse faltado ar para o coitado do galo.
Quem sabe ele pudesse ter asma, ou problema de garganta, quem sabe tivesse sido surpreendido pela galinha no poleiro, sei lá…
Mas era parecido com o cantar de um galo, interrompido por sei lá que razão.
Pensei cá com meus botões: será que tem alguém aí que quer me zoar?
Não, mas não pode ser, pois estou totalmente sozinho em casa.
Mistério total que naquela noite, mesmo tendo ido verificar toda e qualquer possibilidade que porventura estivesse acontecendo, era de se imaginar que algo estranho estava ocorrendo na cozinha ou garagem da minha casa.
Com certeza a noite não foi das mais tranquilas.
Mil e uma possibilidades passaram pelo meu pensamento, dando-me a sensação até de que eu deveria estar escutando coisas do além.
Sei lá, vai saber…
Pois bem, logo ao acordar e ainda com aquela sensação de frustração de não ter encontrado de onde vinha aqueles barulhos, levantei-me, fiz o asseio corriqueiro e fui tomar o meu café, como faço todas as manhãs.
Já na cozinha, arrumei a mesa do café, coloquei água na xícara para esquentar no micro-ondas (a grafia correta é micro-ondas, pela mesma regra que palavras como anti-inflamatório, micro-ônibus, micro-organismo, que antes do Acordo Ortográfico não levavam hífen, atualmente dever ser hifenizadas), peguei o pão, os frios e a manteiga na geladeira.
Sentei-me calmamente à mesa para o desjejum, como realmente se deve fazer pelas manhãs, principalmente para não “apurar” muito o dia.
Ao sorver o primeiro gole de café, vi simplesmente a xícara voar de minha mão, tamanho o susto que tomei, me atirando para trás com a cadeira e quase indo ao chão.
O gemido, aquele primeiro gemido que escutei à noite, agora estava ali, presente, eu escutei-o com todos os seus sons, indiscutivelmente.
Sim senhor, era um gemido em alto e bom som.
Agora já era toalha toda molhada de café, manteiga virada, xícara quebrada, pão ensopado, um verdadeiro pandemônio na minha pretensa “suave manhã”.
O gemido vinha de minha Duplex CRM 45, que havia ligado.
Sim, e ainda tenho até hoje, uma geladeira que se lamenta, que grunhe, que quase me levou ao chão, e que imita cocoricar de um galo com falta de ar…
Era ela, sempre foi ela a geladeira Cônsul Duplex CRM 45 que fez questão de conversar comigo naquela manhã, como uma criança que logo se descobre possível de falar.
Lá estava ela me repetindo todas as suas conversas, os seus sons que, numa casa à noite, sem barulhos, pode até assustar muita gente.
Como eu fui distraído em não perceber que a geladeira, quando eu descia para verificar os barulhos, estava ligada.
Ao menos eu poderia desconfiar sem ficar preocupado.
Agora já estamos bem acostumados com a nossa geladeira Cônsul Duplex CRM 45, falante.
Aliás, se interessar possa, minha amiga e companheira Duplex CRM 45 não está à venda, afinal de contas não é todo mundo que tem uma geladeira para conversar.