Quando eu tinha lá meus vinte anos, gostava muito de viajar para a praia de Bombinhas, em Santa Catarina. Naquele tempo, era só praia e morro. Eu e meus amigos levávamos pés de pato, máscaras de mergulho e snorkel, para quem não conhece aquele canudinho para respirar. Passávamos os dias observando as maravilhas do mundo marinho, peixes, conchas, até lagostas em raras ocasiões. Hoje, não vou mais lá nem por nada, porque a ganância dos empreendimentos imobiliários transformou aquele paraíso em um inferno de concreto.
Mas, na última semana, resolvemos tentar outra praia. Fomos para a Praia do Rosa, mais ao sul. Eu nunca havia estado nessa praia, porque no meu tempo de juventude, o acesso era muito difícil.
Fiquei surpreendido e muito feliz. Não existem edifícios, e embora esteja já bem urbanizada, cheia de pousadas e casas para alugar, tudo está no meio de uma exuberante vegetação costeira, intensamente verde. As praias são lindas, de água limpa e fresca e, pelo menos nessa época do ano, com pouca gente.
É disso que eu gosto.
Vi muita coisa bacana, mas tem umas cenas que vi e, enquanto via, lembrava dos meus amigos leitores desse espaço. Pensava, – preciso contar isso!
Tem uma das praias que se chama Praia do Luz. É longa, e ao norte termina num morro de pedras. Caminhando para o sul, chega-se na barra da lagoa de Itaquera, e isso tudo forma uma paisagem muito agradável. Na frente da praia tem uma ilha de pedras e matas, muito linda, tão próxima que senti vontade de ir nadando. Não me aventurei a essa façanha, não confio mais tanto assim nos meus braços.
Bem, essa praia é bem “família”, na sua maioria de jovens praticantes do surf e seus filhos, crianças pequenas. Muitas dessas famílias eram de argentinos. Espertos eles, apreciadores do que temos de bom.
Uma manhã eu estava tentando pegar uns jacarés, e próximo havia um menino. Novinho, magrinho, com roupa de neoprene. Falou, – é, temos que esperar as ondas. Respondi, – também estás tentando pegar jacaré? – Não, estou fazendo surf de peito, e me explicou a diferença dessa pratica para o jacaré. Depois, falou, – eu surfo também. – Que legal, respondi, e perguntei a idade. Nove anos, mas emendou, – tem uns guris de cinco que surfam melhor que eu!
Depois, da areia, ficamos observando a criançada, correndo, entrando na água, guris, gurias, pequenos, com pranchas, e tentando pegar ondas. Na areia, outros brincavam de pegar ou jogavam bola, ou andavam de bicicleta. Observei que não tinha crianças mexendo em celular. Eram todos os que eu via ativos, brincalhões e magrinhos. Imaginei que deveriam funcionar o dia inteiro, depois comer o que vissem pela frente e dormir como uns anjos.
Eta gurizada que estava feliz.