Tem um negócio aí, com a produção de grãos, que é bem interessante. Milho, soja, arroz, trigo, o produtor colhe, entrega na cooperativa ou unidade recebedora de grãos, e depois vende. Todos tem o preço do dia. E total liquidez. Sempre tem negócio, e sempre paga a vista. É diferente de quase todos os outros negócios. Mas essa liquidez tem um preço. E o preço é o fato de o produtor não botar preço no seu produto. O mercado determina o preço.
Entre maio de 2022 e maio de 2023 o preço da soja para o produtor, aqui na nossa região, baixou de 175 reais para 126 reais. E o do milho baixou de 89 reais para 58 reais. Quedas semelhantes, da ordem de 30 por cento.
Agora, a questão é, por que? Pesquisando, aqui na internet, só encontro como razão uma super safra de grãos brasileira e a necessidade de os produtores venderem a safra, porque estão descapitalizados.
Super safra. De fato, o Brasil colheu bem. No geral. Porque aqui no Rio Grande a coisa foi feia. Aqui do lado, a Argentina colheu muito mal. Analisando o mundo, observa-se que não há excedente, nem de milho e nem de soja. O volume produzido esse ano é semelhante ao do ano passado. E o consumo não diminuiu. Facilmente se entende isso. A população mundial é maior que no ano passado, o mundo não empobreceu, e o comércio em geral está aquecido, graças ao fim da pandemia de coronavirus.
Descapitalização. Essa sim, é muito real. A atual safra custou muito caro. Graças a guerra entre Rússia e Ucrânia, que provocou um aumento brutal no preço dos adubos, dos defensivos e dos derivados do petróleo.
Agora, uma pergunta que não quer calar. Se a guerra na Ucrânia provocou a valorização de tudo, inclusive da comida, porque a safra brasileira está sendo vendida tão barata?
Aqui a conclusão de tudo isso. A facilidade de comercialização dos grãos tem como efeito colateral a exposição dos produtores à especulação. O que vimos no plantio da safra, com o aumento forte dos custos de produção, e o que estamos vendo agora, com a queda violenta nos valores pagos aos produtores, é fruto da especulação. E todas as explicações, sejam guerras ou super safras, são argumentos que os especuladores usam para influenciar o mercado.
