A caixeta do jardim

0
86

Nesse carnaval, resolvemos participar de uma excursão para Curitiba. Lá, os passeios incluíram visitar a Ilha do Mel, descer de trem a serra das graciosas e passear na capital paranaense. Uma viagem muito interessante e prazeirosa para nós, que não somos entusiastas do carnaval.

Viajamos a noite inteira, de ônibus. Antes de chegar em Curitiba, a estrada sobe a serra do mar. A serra é toda coberta pela mata atlântica, que nessa época do ano está florida dos manacás, tingindo o verde de roxo e branco, e também das canafistulas, que pintam a paisagem da amarelo. É muito lindo.

Nas beiradas da mata, aparece uma planta que, à primeira vista, parece mandioca. Mas não é. Trata-se da caixeta (Tabebuia cassionoides), uma planta precursora, de folhas grandes e dispostas em forma de palma, com caule comprido e fino, comum em todo o sul do Brasil. Tem aqui nas nossas serras, e as sementes são alimentos favoritos dos bugios.

Enquanto viajávamos, eu ia mostrando para minhas companhias, no ônibus: – olha, caixetas! Sem conseguir muita atenção, afinal é uma planta muito comum. Sua madeira, no entanto, é muito usada para artesanato, e também para aeromodelos, porque é branca, muito leve, resistente e de fácil manuseio.

Agora, o jardim botânico de Curitiba. Que fomos visitar de manhã cedo. Para os meus olhos, talvez a obra humana mais agradável que vi na vida. Limpo, organizado, já na entrada tem um jardim geométrico espetacular. Flores, cercas vivas. E um caminho que conduz à estufa e ao jardim das estações. Esse jardim das estações fica sob uma cobertura que serve como usina de energia solar. Lá, canteiros, flores, plantas, bancos, e nas laterais, grandes painéis de lona plástica, onde estão pintadas por artistas locais as plantas e flores do jardim. É de encher os olhos.

Por fim, a estufa. Uma enorme estrutura de aço e vidro, que formam três cúpulas, a central mais alta. Dentro, uma fonte cercada por plantas nativas da mata atlântica. Bananas do mato, xaxins, bromélias. No centro, na cúpula mais alta, elevando até quase tocar no vidro que forma o alto da estufa, uma vistosa caixeta. A presença dessa planta, figura central da estufa que é a estrutura central do jardim, lavou a minha alma. A planta, comum na mata, meio que sem sal na exuberância das serras, mostra-se imponente, como que valorizando nossas vidas simples, de cidadãos comuns. Como ela, somos importantes ao que nos importa.

Sentei em um banco, e fiquei olhando de longe a estrutura da estufa, e dentro dela a caixeta. Fiquei com a certeza de que alguém colocou-a lá com um propósito. Penso que valorizar o que muitas vezes é invisível, mas nem por isso pouco importante. Ali está uma planta que protege outras, fornece uma madeira útil, produz alimento para a fauna e, colocada em destaque, é linda.