Em minhas anotações, presumo que o frio já está se instalando no nosso querido Rio Grande do Sul, por estes dias e daqui prá frente, talvez até lá por setembro ou outubro.
Não há quem não diga que o tempo está mudado, que o frio dura mais e que o verão está cada vez mais escaldante, ou coisa parecida, tal qual as chuvaradas que estão acontecendo, com ventanias e granizo.
Sim, são coisas do tempo.
Mas o frio no nosso rincão gaúcho nos leva a coisas agradáveis, tal qual um bom mocotó, um sopão, um cálice de vinho, entre os pinhões assados na chapa dos fogões à lenha.
E as cascas de laranja penduradas em volta do fogão?
Pois é, o fogão à lenha.
Isto nos remete as cozinhas de antigamente e que hoje, ficaram na saudade, pois que os modernismos levaram as cozinhas a exporem fogões a gás, com aquelas chamas indiferentes, impessoais e distantes, bem ao contrário das bocas dos fogões à lenha.
As cozinhas de antigamente, com o fogão à lenha, tinham alma e, tinham alma porque tinham gente, tinham pessoas animadas, tinham conversas, tinham famílias reunidas junto ao fogo.
Mesmo que o frio possa ser poderoso, marcante na sua presença, mesmo assim, ainda a cozinha com o fogão à lenha sempre foi seu antídoto, sempre foi agregador, sempre foi a sala das casas de um tempo passado.
A cozinha com fogão à lenha de antigamente era a felicidade que se desfraldava no cantar do galo, quando começavam a fazer o fogo.
Colocar o papel, ajeitar os gravetos, pingar um pouco de graxa (não, álcool não se usa…a tradição não permite, afinal de contas, quem sabe, sabe…) e, distribuir as achas de lenha de maneira que possam se encandecer…não era um trabalho, era uma satisfação, afinal de contas, era o fogo para o dia inteiro…
Fogo de fogão à lenha exigia ciência, exigia saber, e, colocar lenha ao fogo, tinha-se que ter “conhecer”.
“Saberes e conheceres” – já diria nosso saudoso Chiquinho (Belisário Filho).
Sempre fumegante lá estava o bule do café, junto também das cascas de laranja ao crepitar do fogo e é verdade, até mesmo uma roupa úmida na volta para secar.
Hoje em dia não tem isso, hoje em dia o fogão a gás ignora a arte de um fogão à lenha aceso, ignora a alegria das pessoas em volta de uma cozinha quentinha e exalando o cheiro de um feijão na panela de ferro em cima da chapa, uma carne de ovelha fritando…o cheiro bom da fumaça….o fogão a gás, hoje em dia, é frio e impessoal.
As cozinhas das casas com fogão à lenha, antigamente, eram parte da convivência familiar, com a chama acesa da amizade, da alegria, do gosto da terra, das comidas campeiras, da tradição, do viver aquecido no mundo dos invernos.
– A água prô chimarrão tá quente! “Te gusta”?
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