A melancia

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O causo foi assim: estava em Pelotas, saindo de volta para o Vau dos Prestes. Passamos num supermercado, “dos bons”. Precisávamos de pão, frios e hortifrútis. Na sessão das verduras, ofereciam melancias por R$ 18,90. Achei razoável, gosto muito de melancia, e peguei uma. Coloquei no andar de baixo do carrinho, para não esmagar as outras compras que estavam no de cima.

Chegamos ao caixa. Preferencial, afinal já usufruo desse direito. Passamos as mercadorias, e então anunciei que tinha uma melancia, certo de que a moça do caixa iria digitar o preço do produto. Mas não:

– É preciso passar no caixa, senhor!

– Mas por que? Não é preciso pesar, e a melancia não tem etiqueta de código de barras.

A moça foi inflexível. Não gostei disso, e pedi que chamasse o gerente. Depois de um tempo veio um rapaz bem jovem, e reafirmou o que a caixa dizia.

– São normas da loja, senhor.

Desisti de comprar a melancia. Achei um desaforo. Era preciso tirar a melancia do carrinho. Mas era um caixa preferencial. Então, obrigam uma pessoa que tem direito a um caixa especial, seja pela idade, gravidez ou dificuldade motora, a fazer esforço. Obrigam também a moça do caixa a levantar a melancia, pesada, de um lado para outro, por normas da loja?

Depois, analisando a situação, entendi que as normas eram de segurança. Porque a loja, o supermercado, tem medo de ser roubado. Talvez eu pudesse ter escondido alguma coisa dentro da melancia, ou embaixo dela. Então, o supermercado tem medo de ser roubado, pelo seu cliente. E, para evitar o risco, impõe a humilhação de fazer um processo absolutamente burocrático e improdutivo.

Ando rebelde e decepcionado com os rumos que o mundo está tomando. Esse causo no supermercado, a falta de cordialidade, o impessoal da situação, o constrangimento imposto ao ser humano, me deixaram triste e irritado. Mas uma situação que sucedeu esse desgosto me recompôs o bom humor. Na estrada, entre Pelotas e Canguçu, tem umas bancas tipo feiras. São pequenos caminhões transformados em vendinhas. Parei num desses, vi que tinha melancias, e perguntei quanto custava.

– Quinze, me respondeu o sujeito. Escolhi uma, e peguei na carteira uma nota de dez reais e três de dois. Entreguei. Ele disse:

– Não tenho moedas. E devolveu uma das notas de dois reais.

No fim das contas, a questão é essa. Eu estava comprando melancia no lugar errado.