A vaca

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Morreu uma vaca na estrada, a 471, na descida da serra, sentido Canguçu, quase nas pontes do Abranjo. Uma vaca amarela, boa de estado, e isso já faz tempo. Falo de mais de mês. A vaca ficou caída no acostamento, com a cabeça quase embaixo do guard-rail de aço, e os quartos dentro da rodovia, o que força os veículos desviar, atravessando um pouco a linha divisória das pistas.

É bastante comum de se ver animais mortos na rodovia. Cães, em sua grande maioria, mas já vi muitos outros. Geralmente são animais de porte menor. Uma vaca não é comum. Uma vez tinha um cavalo morto, na mesma estrada, no alto da Serra dos Rosas. Mas logo foi retirado.

A vaca não. Costumo usar a estrada uma vez por semana, para ir à cidade. E, de semana a semana, observei os diversos estágios de decomposição da coitada da vaca. Inchou, murchou, depois ficou couro e osso, e agora está tudo se desmanchando.

E ninguém fez nada. A gente observa, nessa estrada, o mato crescendo, o capim tapando os bueiros e os valos que foram feitos para escorrer a água da chuva. Nunca, ninguém faz nada. Mais adiante, na estrada, na frente de onde foi a Fazenda Aquarius, foi feito um recapeamento do leito da rodovia, que estava virado em crateras. Ali, quando chove, a estrada fica cheia de água, porque é uma baixada e um acumulado de sujeira e terra impede que a água escorra. Pois bem, na primeira chuva depois do reparo na estrada, ficou tudo alagado. Ou seja, uma equipe de manutenção veio consertar e não se deu ao trabalho de abrir uma valeta para a água escorrer.

Provavelmente nenhum responsável por conservação de estradas passou por ela nesses últimos tempos. Ou passou e não viu a vaca, como não viu a sujeira, ou a água acumulada. Ou viu e não se importou.

Convenhamos, uma vaca se decompondo na beira da estrada é uma coisa que fere a sensibilidade. É feio. É perigoso. É desleixo. É a demonstração mais eloquente de como não há um plano de cuidado do que é de todos. Simplesmente deixa atirado para apodrecer.