As janelas e os quintais…

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 Não conheço nenhum escritor, poeta ou cronista, que não tenha para si, uma janela.

 “Nossos olhos são as janelas da alma!”

        Ou do coração?

        Não tem tanta diferença assim, pois o que é mesmo importante é o “sabor” das janelas.

        Nelas, contém o mundo.

        Ali, bem perto da janela, estão as minhas anotações, meus rabiscos, meu computador que, onde antigamente, estava a minha máquina de escrever Olivetti, meus dicionários, um lápis perdido, uma caneta a Deus dará, em cima da escrivaninha e, quiçá, meus pensamentos, palavras e frases.

        As janelas são como os antigos quintais, frescos, com frondosas árvores, muitas frutas nos pés das jabuticabeiras, os pessegueiros e a parreira infinda pelos sonhos de Baco, onde os antigos romanos denominaram-no como o deus do vinho.

        Todavia, na Grécia antiga, ele Baco, ficou conhecido como Dionisio, tendo aprendido com Sileno, um homem mais velho e que adorava se embriagar com vinho, tudo sobre a cultura das vinhas e a produção de vinhos.

        Mas, estávamos a falar das janelas…

        Pois é exatamente tudo isso uma janela, quando nos remete aos devaneios, aos pensamentos e murmúrios soletrados, como esta pequena divagação sobre Baco ou Dionisio…

        Ela é o infinito de nossa imaginação.

        Jamais e em lugar algum é compreensível, quem tem a paixão pelas palavras, não estar próximo, muito próximo “dos olhos da alma”, como os quintais cândidos de nossas infâncias.

        Tudo, as janelas e os quintais, nos enviam ao íntimo de nossos sentimentos… adorar saber que ao alcance de nossas mãos, encontra-se um Deus em todo o Seu Esplendor.

        Um mundo que se derrama até mesmo e muito, em fantasias e ilusões, nas recordações das casas de nossos avós, com crendices e superstições, das almas escondidas nos escuros das noites nos quintais.

        Ah, as janelas…pois quando foi a última vez que você “esborrachou” o nariz contra o vidro da janela para observar a chuva que lá fora caía insistentemente?

        E as cachoeiras nas sarjetas, hoje desamparadas pelos barquinhos de papel, a rodopiarem em um bailado desconexo pelos sopros dos nossos corações?,

        Ah, as janelas…que logo ali, no canteiro, a interrogar nossos amores, estiveram as roseiras…o cravo, brigou com a rosa, debaixo de uma janela…

        Não, não é assim tão dramático que o cravo saiu ferido e a rosa despedaçada.

        A janela e os quintais são alegrias infindas a nos deixar plenos na busca pelas viagens dos sonhos…

        E, amar a vida.

        Criar é estar bem junto de uma janela e aprender a olhar o mundo sob outro prisma…o da felicidade.

        Tal qual quando estivemos refertos, plenos, nos quintais das casas antigas, com portas de ventos a embalar nossos desejos e planos.

        As janelas fazem parte da vida de um escritor, como os quintais…

“…sem elas, a literatura seria irremediavelmente hermética, feita de incompreensíveis pedaços de vida, lágrimas e risos loucos, fúrias e penas.”

Paulo Mendes Campos

 

 

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