As janelas e os quintais…

0
116

 Não conheço nenhum escritor, poeta ou cronista, que não tenha para si, uma janela.

 “Nossos olhos são as janelas da alma!”

        Ou do coração?

        Não tem tanta diferença assim, pois o que é mesmo importante é o “sabor” das janelas.

        Nelas, contém o mundo.

        Ali, bem perto da janela, estão as minhas anotações, meus rabiscos, meu computador que, onde antigamente, estava a minha máquina de escrever Olivetti, meus dicionários, um lápis perdido, uma caneta a Deus dará, em cima da escrivaninha e, quiçá, meus pensamentos, palavras e frases.

        As janelas são como os antigos quintais, frescos, com frondosas árvores, muitas frutas nos pés das jabuticabeiras, os pessegueiros e a parreira infinda pelos sonhos de Baco, onde os antigos romanos denominaram-no como o deus do vinho.

        Todavia, na Grécia antiga, ele Baco, ficou conhecido como Dionisio, tendo aprendido com Sileno, um homem mais velho e que adorava se embriagar com vinho, tudo sobre a cultura das vinhas e a produção de vinhos.

        Mas, estávamos a falar das janelas…

        Pois é exatamente tudo isso uma janela, quando nos remete aos devaneios, aos pensamentos e murmúrios soletrados, como esta pequena divagação sobre Baco ou Dionisio…

        Ela é o infinito de nossa imaginação.

        Jamais e em lugar algum é compreensível, quem tem a paixão pelas palavras, não estar próximo, muito próximo “dos olhos da alma”, como os quintais cândidos de nossas infâncias.

        Tudo, as janelas e os quintais, nos enviam ao íntimo de nossos sentimentos… adorar saber que ao alcance de nossas mãos, encontra-se um Deus em todo o Seu Esplendor.

        Um mundo que se derrama até mesmo e muito, em fantasias e ilusões, nas recordações das casas de nossos avós, com crendices e superstições, das almas escondidas nos escuros das noites nos quintais.

        Ah, as janelas…pois quando foi a última vez que você “esborrachou” o nariz contra o vidro da janela para observar a chuva que lá fora caía insistentemente?

        E as cachoeiras nas sarjetas, hoje desamparadas pelos barquinhos de papel, a rodopiarem em um bailado desconexo pelos sopros dos nossos corações?,

        Ah, as janelas…que logo ali, no canteiro, a interrogar nossos amores, estiveram as roseiras…o cravo, brigou com a rosa, debaixo de uma janela…

        Não, não é assim tão dramático que o cravo saiu ferido e a rosa despedaçada.

        A janela e os quintais são alegrias infindas a nos deixar plenos na busca pelas viagens dos sonhos…

        E, amar a vida.

        Criar é estar bem junto de uma janela e aprender a olhar o mundo sob outro prisma…o da felicidade.

        Tal qual quando estivemos refertos, plenos, nos quintais das casas antigas, com portas de ventos a embalar nossos desejos e planos.

        As janelas fazem parte da vida de um escritor, como os quintais…

“…sem elas, a literatura seria irremediavelmente hermética, feita de incompreensíveis pedaços de vida, lágrimas e risos loucos, fúrias e penas.”

Paulo Mendes Campos

 

 

Agenda