Choveu!

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Rain and roof

E choveu! Aqui no Vau dos Prestes, choveu intermitentemente a noite inteira. Molhou a terra e refrescou o ar. Pelo menos um pouco. Nosso vale vai ficar mais verde, e os plantadores recuperarão um pouco da esperança.

O dia amanheceu nublado, e lembrei de uma visão que tive, logo que vim para cá. Era outono, lá pelos anos de mil novecentos e oitenta e poucos. Ainda se viajava em estrada de chão da cidade para cá. Numa manhã, saí cedo. Deveriam ser umas sete e pouco quando cheguei à boca da serra dos Rosas. O Vau estava coberto de neblina. Aqui em baixo, no outono, muitas vezes a cerração passa do meio dia, deixa tudo úmido e cinzento. Mas, para quem olha lá de cima, a vista é paradisíaca. O que eu via naquela manhã ensolarada era um mar branco, de algodão, cobrindo o vale. Aqui e ali, uns montes mais altos sobressaíam daquele branco, formando ilhas.

Magnífico, me apaixonei pela visão. Aos poucos, fui aprendendo a apreciar os campos do Vau dos Prestes, os matos no entorno do Camaquã e dos arroios subindo a serra dos Nascentes. Aqui em baixo, o reino do Angico vermelho, da Canela, das Guajuviras. Na serra, figueiras, Cedro. Capim de todos os tipos. Reconheci uma meia dúzia de espécies diferentes de pega-pega. Como se sabe, o pega-pega é uma planta rica em proteínas, muito procurada pelos bovinos, uma das riquezas do Vau.

O Camaquã nem se fala. No verão, quando formam praias de areia, a água mais limpa do Rio Grande do Sul. Como ilustração, uma vez li num relatório da secretaria do meio ambiente que nosso rio, no local mais poluído, carregava mil vezes menos coliformes que o Gravataí, no seu local mais limpo.

Assim é o Vau, um pouco do Vau. Que enfrentou dias tórridos, estávamos mesmo sofrendo com o calor e a falta de umidade. Agora, tudo vai mudar. Fevereiro é um mês de virada. Os dias são mais curtos que dezembro e janeiro, e a chuva tende a ser mais efetiva. Bom para as lavouras, muito bom para os campos e matos.