VELHOFOBIA
Eu me lembro muito bem, minha querida e estimada vó Marieta, lá em Bagé, sentada na varanda bem iluminada da sua casa, donde o pé direito da casa ainda era alto, em uma cadeira de balanço, com seu xale por cima dos ombros e um crochê nas mãos.
Com toda a certeza deveria estar beirando seus sessenta anos.
Tínhamos um verdadeiro respeito e adorávamos conversar com ela e, ela a nos contar das suas histórias, com o testemunho da sua irmã, minha tia Nena, que era muito pouco mais nova, mas também uma lindeza de tia-avó.
É bem verdade que lá naqueles tempos, pessoas que passavam dos seus cinquenta anos, já eram consideradas “idosas” ( e não “velhos”) e, também é verdade que mudavam os seus “semblantes”, tinham cabelos brancos, usavam saias abaixo dos joelhos, um xalezinho nos ombros e a confortável cadeira de balanço em suas casas, que era um item indispensável.
Dificilmente as viúvas usavam outras cores em suas vestes a não ser o preto do luto, contudo, depois de um certo tempo de viuvez, usavam o “luto aberto”, ou seja, mesclavam em suas cores o preto com o branco.
Assim era lá na minha família, respeito, adoração, carinho, e sorvia-se e muito do conhecimento, das histórias, dos conselhos, da experiência indubitável de nossos idosos e daqueles tempos.
Os anos foram se passando…
E, aos poucos fomos notando que as pessoas de uma certa idade, mesmo que modificassem principalmente os seus semblantes, o seu vestir, as suas atitudes, começaram a não ser mais respeitados, a não ser mais considerados e, “jogados” indiscriminadamente ao léu.
Os “invisíveis”.
Não foram eles, os mais idosos que perderam o seu apreço, a sua estima e prezando por sua consideração, ao contrário…estão eles sim, sendo desconsiderados, jogados de lado, sem nenhum apreço pelos demais, infelizmente.
Velhofobia.
Ou então, etarismo, ageísmo, idadismo…
É o tal do preconceito com as pessoas mais idosas.
E se diz “mais idosas” pois que “mais velhos”, traz embutida a mensagem de tudo aquilo que não serve mais e, decididamente não é o caso.
Estas outras gerações, estultamente, jogam fora as oportunidades de aprenderem, de absorverem, de se embriagarem mais, mas de conhecimentos, de experiência, de bons conselhos, ao tempo e hora em que, “desinteligentemente” usam da “invisibilidade dos 60+”.
Para eles, os “desinteligentes”, citamos como exemplo para verem e ouvirem, os orientais, que veneram seus antepassados e pessoas de mais idade, haurindo toda a cultura e aprendizado dessas pessoas.
Não sabem, também, os nossos “jovens” que o etarismo produz estereótipos negativos e que está previsto no Estatuto dos Idosos como delito.
Pré – significa antecipação…
Conceito – significa concepção, noção, pensamento…
VELHOFOBIA É PRECONCEITO!
Volto a reafirmar: o significado de “velho” é algo de que não serve mais, porém o que não serve mais é justamente este significado e, resolutamente, não é o caso das pessoas que englobam o mundo dos 60+ e muito menos os estigmas associados ao envelhecimento.
Não no mundo de hoje, todavia e infelizmente são muitos e estão arraigados nos tempos de hoje e em nossa cultura…lamentavelmente.
Saudades da vó Marieta e da Neninha…