Correria da corredeira

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Quem não tem medo de cobra?

        Ou melhor, que ficaria parado vendo uma cobra de no mínimo 60 cm de comprimento, podendo chegar até 2,5 m, vindo correndo em sua direção, numa velocidade incrível?

        Corredeira, corre-campo, oveira, bagual, cobra-do-mato… essas são algumas alcunhas da cobra bagual (esse é o termo mais comum que conhecemos por aqui pelo pampa gaúcho) e, que tem o nome científico de Thamnodynasies Pallidus.

        Muitos dizem que ela não é venenosa porque suas “presas” ficam na parte detrás da boca, no entanto, algumas fontes literárias dão conta que ela tem veneno sim, mas que não chega a ser letal ao homem”.

        Buenos, de certo que eu não ficaria nenhum milésimo de segundo esperando qual é a da cobra, ainda mais correndo na minha direção e de boca aberta.

        Se tem alguma coisa que assuste é esse bicho peçonhento.

        Existem no nosso folclore centenas e centenas de histórias sobre esta cobra, principalmente das disparadas que ela patrocina aos descuidados.

        Muitos riem, mas a coisa não é fácil não…não é de rir.

        Vai saber, naquele momento de pavor, se a cobra é bagual ou não, se é venenosa ou não, se vai morder ou não…

        O certo bem certo é que ela vindo na direção do vivente, o negócio é se mandar “de vereda”, e bem ligeiro.

        Pois essa história que vou contar agora aconteceu numa granja, lá no Passo das Pedras, divisa entre Amaral Ferrador e Encruzilhada do Sul, já há algum tempo.

        O plantio era de soja, e as lavouras sempre eram muito bem feitas, muito bem trabalhadas, e alvo de muitos elogios por parte dos técnicos e agrônomos daquela época.

        Certa feita, antes de começar a lida, o proprietário da granja tomava café no galpão junto com seu filho, que testemunhou esta história e os empregados, e, se dirigindo para um deles, disse:

– Rôsley, pega a Globe (grade aradora que serve para aração e gradagem do solo), e passa naquele banhado lá, que este ano nós vamos aproveitar aquele pedaço…

        Dito aquilo, e estando na hora da “pegada”, o Rôsley se levantou, subiu no trator que já estava engatada a Globe, e se mandou para a lavoura cumprir o mandado do patrão.

        Eles, então, ficaram terminando o café e, observando o trabalho do Rôsley, que do galpão dava para vislumbrar o tal do banhado.

        Passada para lá, passada para cá, e lá ia o Rôsley, o trator e a Globe desempenhando a função determinada…gradeando o banhado.

        De repente, sem mais nem menos, lá do galpão, viram o Rôsley dar um pulo do trator mesmo andando, e sair em disparada campo afora…

– Olhem lá, olhem lá, o que será que deu no Rôsley… saltou do trator em movimento e se mandou “a la cria”…?

– Será que foram os camotins que bateram nele… abelhas…viu uma assombração, enlouqueceu…???

        De lá de onde ainda se via um risquinho do Rôsley, ele acenava desesperadamente, em movimentos frenéticos e descompassados, totalmente apavorado.

        O cara deve ter visto o capeta, só pode.

        Então, como o trator já havia apagado e não tinha mais risco de acidente, o proprietário da granja e seu filho correram em direção ao assustado do Rôsley.

– Mas o que houve, tchê? Que desespero é esse? Por que essa disparada toda?

– Uma cobra, uma baita cobra subiu no trator, e quando eu vi, tava vindo em minha direção bufando… mal deu tempo de eu saltar fora, mesmo com o trator andando…

        Pois não é que a maldita da bagual subiu pelo eixo do trator e, enraivecida, atacou o Rôsley querendo mordê-lo, justamente quando ele se atirou do trator e se mandou em disparada.

        E, para o maldito dos azares ela ficou em cima do trator, andando de um lado para outro, “bufando” de braba e não deixando ninguém se aproximar.

        Fato verdadeiro. Coisa muito feia!