A gente olha pouco para o céu noturno. Talvez a principal razão seja que, para isso, é preciso estar no escuro. E na rua. Hoje em dia tudo é iluminado, então o céu não aparece. Mas tem lugares onde é possível. E existem ocasiões, noites, em que a gente se dispõe.
Outro dia, estava escuro aqui no Vau. E fazia muito calor. Deitei no chão e fiquei olhando o céu. É muita estrela. É muito grande. Comecei a imaginar que as estrelas não estão, todas, num mesmo plano, e com isso consegui sentir um pouco do que é o espaço.
Aí, fixei os olhos no cruzeiro do sul.
Sempre o cruzeiro do sul. Ícone celeste. Então, lá estão as quatro estrelas. Sepé na ponta. Ou base do cruzeiro. Cruzeiro quer dizer cruz, e a gente traçando linhas imaginárias entre as estrelas percebe com muita facilidade o formato de uma cruz. Assim eram os povos antigos, que ficavam olhando o céu, uma vez que não tinham televisão nem celular. Imaginavam figuras, ligando as estrelas. Daí nasceram as constelações, as imagens do zodíaco e o cruzeiro do sul.
Só que imaginar uma cruz é fácil. Depois de ver a cruz, lembrei que, provavelmente, as estrelas do cruzeiro não estão no mesmo plano. Estão longe uma das outras e, com relação a nós, mais perto ou mais longe umas que outras. Deixei minha visão correr livre com minha imaginação, e então formei uma figura tridimensional, como se fosse um diamante lapidado em quatro faces. Desde esse momento, não vi mais um cruzeiro, vi um diamante.
Tirei uma lição para a vida. As coisas, os fatos, vistos com olhos rápidos aparecem em uma dimensão. Um olhar mais calmo, profundo e imaginativo, consegue ver várias dimensões. E é bom que se consiga ver assim. No caso das estrelas, latitude, longitude, profundidade, tempo. No caso da vida, olha daqui, olha dali, olha de cima, considera o tempo e o contexto em que as coisas acontecem.
A vida, como o céu noturno, é multidimensional. Não podemos nos esquecer disso.