Está ruim mas está bom

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Ainda que difícil de compreender, é interessante a situação dos vizinhos argentinos. Estão há anos se queixando do governo, que aumentou a pobreza, perdeu o controle da inflação e gastou todas as reservas financeiras. Mas votaram em grande maioria no candidato a presidência governista. Mais que isso, no ministro da economia do atual governo.

Economistas em geral definem o problema como desequilíbrio nas contas públicas. O governo da Argentina gasta mais do que arrecada.

Então, o resultado da eleição em primeiro turno soa como um contra senso. Do outro lado, na oposição, um candidato que bota o dedo na ferida. Propõe um corte nas contas públicas. Salários públicos elevados, elevado número de cargos em confiança, benesses aos altos escalões.

Quer dizer, aponta para os marajás, como dizia o brasileiro Fernando Collor. Mas também propõe cortar gastos em educação e saúde públicas, bolsas aos mais pobres, subsídios em água, luz, comunicações, e por aí afora.

O que se observa é que a maior parte dos argentinos está, de alguma forma, ligada ao governo, seja como participante, funcionário, fornecedor ou como recebedor de subsidio ou benefícios sociais. Por causa disso, mesmo entendendo que alguma coisa precisa ser feita para equilibrar as contas e fazer o país crescer, tem receio de aceitar uma proposta radical que pode desequilibrar a nação.

No fim, fica a ideia de que, ainda que causando todos os desassossegos que os argentinos experimentam, o atual governo vem fazendo o que a maioria da população deseja. As propostas do opositor mexem nessa realidade. E não parecem exequíveis. A população demonstrou, na eleição em primeiro turno, não estar disposta a arriscar.

É interessante. Difícil de entender que não haja uma saída melhor. Mas os argentinos têm suas razões.