Que título estranho para uma crônica…, perdoem-me.
E quem, por uma dessas fatalidades da vida, for ler estas linhas, haverá de pensar, num relance e de imediato, que eu chorei dentro de um supermercado por causa dos preços das mercadorias.
Bem, até poderia ser e não seria nada de anormal, visto o custo de vida exacerbado que nós brasileiros, sentimos na pele e, mais ainda, no bolso.
Mas não, não foi por causa disso.
Sinto muito decepcioná-los.
Acreditem, foi apenas e tão somente porque peguei uma barra de chocolate na prateleira do supermercado e lembrei-me da infância.
Foi por isso que eu chorei.
Chorei sem as outras pessoas notarem, chorei baixinho, dentro da minha alma, com o coração doído e confrangido contra o peito, chorei convulsivamente e junto com as minhas mágoas, as minhas dores, minhas lembranças e saudades.
Mesmo agora, enquanto estou digitando estas linhas, as lágrimas teimam em voltar, de verdade e sem plateia…
Como Charles Chaplin: “Eu sempre gosto de andar na chuva porque ninguém pode ver as minhas lágrimas.”.
Ah, quem dera neste momento a chuva fosse de mim a companheira…quem dera…
E tudo isso encontra sentido quando eu me lembrei no momento em que peguei aquele chocolate, que ia com meus pais num supermercado para fazer as compras do mês.
Era ali na Avenida 7 de Setembro, na minha querida Bagé, pelas imediações do já consumido Hotel do Comércio, onde existiam a Cobal e o Supermercado Lamas.
A preferência sempre recaía no que estivesse mais barato, com toda a certeza.
E, já desde casa, as recomendações eram severas:
– Meu filho, não é para pedir nada!
Eu adorava ir ao supermercado, coisa que até hoje eu gosto de fazer e, talvez tenha mantido este prazer lá daqueles tempos.
Foi por isso que chorei dentro de um supermercado…chorei nas minhas lembranças, as saudades que sempre me puxam para lá, para o meu bom tempo, para a minha boa época, modesta, bem modesta, mas a minha vida, onde forjei minha personalidade, onde aprendi os meus valores, pelas palavras e ensinamentos do Chico e da Iolanda.
Obrigado, meus pais.
…, mas era quase impossível não pedir nada.
Ah, não, mas um chocolate eu iria pedir, sem sombra de dúvidas, não tinha como não dar uma tentada.
Quem nunca…?
Contudo, a resposta era sempre a mesma e, quando eu peguei dia desses a barra de chocolate na prateleira do supermercado, mais uma vez entendi que existem certas prioridades…meus pais tinham as suas prioridades.
– Não meu filho, chocolate desta vez não vai dar porque o orçamento do mês está apertado.
Porém, a surpresa vinha quando as compras passavam no caixa e, mesmo que não tivesse sido agraciado com o chocolate por causa do orçamento mensal do seu Chico, ao menos um pirulito da Kibon, de chocolate, porque a Kibon naquela época tinha pirulitos de chocolate, vinha parar nas minhas mãos.
Talvez Dona Iolanda, lá no meio daquelas prateleiras, entre um pacote de feijão e outro de arroz, uma farinha e uma lata de azeite, tenha convencido o seu Chico de me presentear com ao menos um pirulito, de chocolate.
Eu deveria ter chorado era naquele supermercado, de agradecimento, de louvor aos meus pais, de saber reconhecer os limites do nosso orçamento mensal, eu devia chorar de agradecimento era lá naquele passado já tão distante…
O simples fato de pegar a barra de chocolate foi a ventania que me fez voar saudosamente e, me jogou novamente nas mãos dadas e carinhosas da Dona Iolanda e do Seu Chico.
Foi no meio desta chuva mansa de boas lembranças, quem provocou as lágrimas disfarçadas de minha alma, entre prateleiras de nostalgias, sem que ninguém percebesse.
Talvez eu estivesse andando na chuva…
Pois é, eu já chorei dentro de um supermercado.