E a Argentina? Visitei o país vizinho no mês de maio passado. Estava fácil para nós, brasileiros. A moeda deles desvalorizou bastante, e a gente podia passar bem gastando pouco.
Mas fiquei com essa pulga atrás da orelha. Por que será que a coisa degringolou por lá? Não sei, e procuro por explicações, que não me são suficientes. Todavia, tenho algumas pistas.
Só para se ter uma base, quando fui levei uns dólares que comprei num banco daqui. Em dinheiro de papel. Paguei cinco reais por cada dólar. Lá na Argentina eu trocava por mais ou menos duzentos pesos. Quer dizer, o real valia quarenta pesos. Por causa dessa diferença de cambio, eu abastecia meu carro pagando três reais por um litro de gasolina.
A gasolina estava barata. Para mim, mas não para eles. Confesso que fiquei constrangido. Afinal, estava bom para mim por causa de uma coisa que fazia mal para eles.
Agora, eu olho como está o cambio. Aqui, se compra um dólar com cinco reais e cinquenta centavos. Piorou para nós. Mas esse dólar compra trezentos e cinquenta pesos argentinos, agora. Muito pior para eles.
Lembro, aqui, que em 1994, quando o Brasil lançou o plano Real, um real valia um peso que valia um dólar.
Eu nunca havia visitado a Argentina, e não conhecia a capital, Buenos Aires. Fiquei impressionado. O centro da cidade é colossal. Prédios imponentes. De encher os olhos. Então, dei uma pesquisada. A Argentina já foi um dos países mais ricos do mundo. Muito mais rico que o Brasil. Lá pelos idos da metade do século passado. O seu principal produto, a carne bovina, valia muito. E com razão, pois é a melhor carne do mundo.
No centro da capital, sobre a principal avenida da cidade, chamada Nove de Julho, bem no alto de um prédio muito alto, há uma silhueta de aço, enorme. É o rosto de Evita Perón. Se impõe sobre a cidade. Contam os argentinos que foi a mãe do povo. Esposa do presidente Juan Perón, ainda hoje exerce forte influencia nos sentimentos argentinos, foi o que percebi. Mesmo já passados setenta anos de sua morte. Ainda hoje lideranças são eleitas na esteira das bondades de Evita.
Todavia, existe oposição. Quem não gosta dela, afirma que foi pródiga em gastar os recursos da Argentina. Contam que se criou um espírito de riqueza infinita, e nunca se conseguiu administrar o país de forma austera. Tipo “pai rico, filho nobre, neto pobre”. Sim, o principal produto da Argentina, a carne, continua sendo boa, mas hoje muitos países produzem muita carne, que já não vale o mesmo que valia antes.
Como disse, eu não sei o que se passa com nossos vizinhos. Não me agradou em nada ver a confusão financeira que vi por lá. Os mais novos não lembram, mas já passamos por um tempo em que se dizia que a Argentina era o Brasil amanhã. Isso foi antes da criação do Real como moeda nacional. E esse “sou você amanhã” era sempre má noticia na economia.
Tomara que eles se ajeitem. Tomara que nós também consigamos passar por esses problemas que nos afetam a economia hoje em dia com bons resultados. Enfim, tomara que eles não sejam mais nós amanhã.