Falando deles para falar de mim mesmo

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Duas perdas de grande vulto no cone sul. Em datas próximas, faleceram o Papa Francisco e o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. Dois líderes com ideais humanitários, ainda que em situações historicamente opostas, visto ter sido Mujica ateu.

Penso que, quando se escreve alguma coisa sobre alguém, se está escrevendo mais sobre si mesmo do que sobre esse alguém. Portanto, nada posso dizer sobre o Papa ou o Mujica que não seja o que me ocorre quando penso sobre eles, ou quem quer que seja.

E penso que algumas pessoas alargam tanto suas vidas que se tornam maiores que si mesmos. Os dois se apresentavam como pessoas fundamentalmente simples, mas suas vidas foram enormes. Poucos sobem tão alto. E fico pensando na história que lemos, da humanidade. Lá vêm reis, conquistadores, descobridores, e todos tem nome, viram ruas, museus, parques, e por aí vai. Newton, Darwin, Colombo, Gengis Khan. Quem era o amigo de infância do Papa, ou quem era o vizinho do Mujica?

Bilhões de indivíduos viveram desde que o homem virou homem. Como dizia Jorge Ben, “posso não ser um grande líder, mas assim mesmo lá em casa, meus amigos, meus camaradinhas, me respeitam”. É o que somos. Contaram os noticiários que o Mujica era um cara simples, que começou a vida produzindo flores, depois virou político, revolucionário, atuou em movimentos armados contra o governo, foi preso, sofreu na cadeia, voltou, virou presidente de deu um discurso que vai ficar gravado na história da ONU. Depois, voltou para sua chácara perto de Montevideu, e ali viveu até o fim da vida.

No desempenho de suas funções, foi admirado e odiado. Assim como o Papa, não teve filhos. Em suas próprias palavras, “estava tão ocupado tentando mudar o mundo que não teve tempo para família”.

Quem vai saber. Quem sabe, o vizinho do Mujica esteve tão ocupado com sua família que não teve tempo para mudar o mundo. Mas garanto que, em algum momento, ou em muitos, o famoso e o obscuro se encontraram, conversaram, quem sabe tomaram um trago juntos, ou discutiram por causa de uma cerca ou uma vaca.

É assim, a vida de cada pessoa causa impactos. Bons e ruins, e quanto maior for o movimento maiores os impactos. E quanto a ficar famoso ou não, depois que a vida acaba, não faz mais importância nenhuma.