Lá em casa, no tempo em que eu era pequeno, havia uma ansiedade crescente com a aproximação do Natal. Sentávamos à mesa para jantar, mas antes cantávamos “faltam 4 domingos, pra chegar o Natal, e o Menino Jesus, vai nascer afinal..”, na outra semana, era “faltam só 3 domingos, pra chegar ….” . Naquele tempo, o pinheirinho era de verdade. Meu pai comprava um, e colocávamos dentro de um balde com pedras, terra e “Melhoral”, que acreditávamos conservar o pinheirinho verde por mais tempo.
Enfeites na casa, no jardim, presépio, e presentes escondidos. Era uma casa alemã, onde a tradição do Natal é forte. Minha mãe fazia doces, bolachas com cobertura natalina, e caprichava na ceia. Era a festa preferida dela.
Herdei de minha mãe o gosto pelo Natal. Hoje, claro, não sou mais criança. E tem pouca criança na minha vida. Já não fazemos mais muita decoração, e nem cantamos aquela musiquinha. Pelo menos não em vozes altas, porque continuo cantando dentro da minha cabeça. E sinto uma alegria muito grande em fazer a ceia. Que consiste num peru com farofa e frutas doces, um presunto assado, e acompanhamentos diversos. É muito legal passar o dia na cozinha, fazendo essas coisas, conversando e contando histórias.
O que não gosto de fazer é comprar presentes. Compro uns que são obrigatórios, mas sem muita vontade. Fico pensando que essa festa, de Natal, ficou muito comercial. Vou nas lojas, olho para os presentes e percebo que são coisas feitas por máquinas, em série, umas iguais as outras, e sempre caras.
Fiquei velho e pão duro. Todos os anos faço a mesma promessa. Que para o próximo ano farei coisinhas de madeira, tipo caixas, tábuas de carne, ou sei lá o que, para dar de presente. E todos anos esqueço de faze-los. Quando lembro dos presentes, acabo pensando que essa é a parte ruim do fim do ano. A gente se vê obrigado a comprar coisas, deixa para última hora, fica pressionado e acaba gastando mais do que devia, e entra no ano novo com dívidas. E infeliz por causa disso.
Minha sogra tinha uma estratégia. Comprava os presentes durante o ano inteiro. Quando via alguma coisa que achava que seria legal para algum dos seus queridos, comprava e guardava. Era uma boa ideia, parecida com a minha de fabricar os presentes. Com a diferença de que ela fazia, e eu sonho. Já minha avó dava um dinheirinho para cada um dos netos, não tinha paciência para fazer essas compras. Não era uma má ideia, mas lembro que entristecia muito a sua filha, minha mãe. Entendo as razões das duas.
Da parte que eu gosto, a ceia, já me preveni faz tempo. Está tudo comprado e guardado no freezer e no armário. Garantido, pesquisado, comprado pelo melhor preço. Dos presentes, não tem jeito, entre essa e a próxima semana vou lá, porque ficaria muito infeliz se chegasse na noite do Natal e não tivesse um presentinho para aqueles que amo.
Mas no ano que vem, no ano que vem sim, vou fazer os presentes. Não que eu acredite muito nessa minha determinação, mas gosto de pensar que um dia realizo esse sonho.