Coisas da vida. O homem, lá no centro oeste do Brasil, acertou na loteria e ganhou duzentos milhões de reais. E morreu três semanas depois. Nem teve tempo de aproveitar a riqueza. Um enfarte fulminante enquanto arrumava os dentes.
Que azar!
Que azar?
O que eu faria se ganhasse tanto dinheiro assim? Aplicando na poupança, renderia um milhão por mês. Trinta mil reais por dia. Pois é, miles de possibilidade de coisas para fazer. Comprar uma fazenda bem grande, uma casa boa, um carro bonito, viajar, conhecer o mundo.
E depois?
Bom, depois seria cuidar da segurança. Sim, porque alguém que tenha essa grana toda tem que se cuidar. Sequestro, roubo, da gente ou dos parentes. Até na casa, onde morar, que tipo de segurança contratar. E gente para cuidar da tal fazenda bem grande, da casa boa, de todas as coisas que o dinheiro pode comprar.
Feita essa parte, lidar com os pedidos de ajuda. Afinal de contas, que tem a sorte de ganhar essa bolada, pode bem cuidar dos parentes, amigos, ongs, e outros tantos que vão estender o chapéu.
Teria que dispensar um tempo bem grande para administrar essas caridades.
O resultado é que o padrão de vida iria melhorar, sem dúvida. Mas também é certo que novas preocupações tomariam o lugar das atuais, como juntar dinheiro para pagar as contas no fim do mês. Sim, porque pelo menos as contas ficariam fáceis de pagar.
Somando e dividindo tudo, um sentimento de “deixa pra lá” me assalta, visto que depois de um tempo parece que a vida voltaria ao normal, um normal diferente, mas novamente normal.
No entanto, deve ser maravilhosa a sensação de se descobrir milionário, de um instante para o outro. Aí, lembro daquela enfermeira que achou que tinha ganho na mega da virada. Acertou todos os números, mas eram apostas diferentes. Ela entende tão pouco de loteria que gritou no corredor do hospital: – ganhei! Todas as colegas vieram abraçar, fizeram festa. A moça dizia – agora sim! Vou viajar!
Mas se decepcionou, e descobriu que continuava a mesma de antes.
Como o homem, esse dos duzentos milhões. Nem aproveitou. Mas uma coisa é certa, morreu feliz. Afinal, morreu rico.
