Minhas vizinhas, as capivaras

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Nos fundos da minha casa tem um açude. Nesse açude tem duas ilhas. Nesse açude e nessas ilhas vivem algumas capivaras. Adultas e crias novas. Elas costumam dormir nas ilhas. Durante o dia, saem do açude entram num matinho que margeia uma sanga, desaparecem. Vão, voltam, faz anos que estão por aí.

Acredito que as crias formem bandos e mudem para outros locais, ou os adultos. Não sei. A quantidade total não cresce muito. Com o passar dos anos vão ficando cada vez mais destemidas. Andam, agora, em volta até das casas, durante a noite. Os cachorros dormem no pátio, cercado com tela. Assim, não conseguem enfrentar as capivaras quando está escuro. Mas enfrentam durante o dia. Fazem correr para a água, tentam pegar alguma. Não permitem que se aproximem.

É muito difícil diferenciar os machos das fêmeas. Mas eu tenho minhas desconfianças. Por exemplo, quando os cães atacam, alguns adultos nadam para longe com as crias, mas tem um, e é grande, fica nadando na frente dos cães. Ele nada até na direção deles, já vi sair da água para enfrentar os cães. Penso que seja o macho dominante. Cuidando de sua família.

Outro dia, eu estava passando pela taipa do açude, e vi os cães correrem para as capivaras. Que pularam na água, latindo como costumam fazer. O tal macho ficou toureando os cães, com muita energia. Então, ele me viu. Imediatamente parou de atacar, ficou parado dentro da água, me observando, nadou de um lado para outro, mergulhou, apareceu um pouco ao lado, com muita cautela. Quando percebeu sua família já afastada, mergulhou e apareceu novamente longe, junto das outras.

Fiquei com a cena na cabeça. Imaginando como ele, o macho, vê o mundo em que vive. Porque está sempre ali, no açude. E como eu posso ver ele, também ele pode me observar. E aos cães, e todo o funcionamento da casa. Acredito que faça isso. Provavelmente já sabe nossos horários. De acordar, de dormir, de sair, soltar a cachorrada. Deve ouvir os ruídos e perceber luzes e movimentos.

Talvez, sem os cães, já tivesse sido possível uma aproximação maior entre humanos e capivaras, por aqui. Mas, da maneira como está estruturada a situação, é até inteligente. Uma comunidade de espécies diferentes, entre as quais me coloco. Gosto de vê-las, mas não há necessidade de nos relacionarmos pessoalmente. Nem quero que venham comer minhas frutas, ou flores ou verduras. Assim como está, está bom, vivemos em equilíbrio.