Números da seca

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Apesar das últimas chuvas, que aliviaram bastante o calor, os estragos da seca no Rio Grande do Sul estão consolidados. Estimativas da Emater apontam para 43 % de quebra na safra de soja e 54 % na safra do milho. Em outros números, menos 8 milhões de toneladas de soja e menos 2,7 milhões de toneladas de milho. Financeiramente, algo em torno de 28 bilhões de reais de perdas em soja e 5 bilhões de reais a menos no milho.

São números assombrosos. Há perdas também na produção de leite e haverá perdas na produção de bovinos de corte, mas por enquanto, as estimativas de perdas referem-se a toneladas de produtos agrícolas e dinheiro.

Como pitoresco na seca, não se estima potencial escassez de alimentos. Reflexos de um mundo globalizado, inclusive na produção primária. Bem lembrado, soja principalmente e milho não são consumidos in natura por nós, humanos. Para se ter uma ideia da dimensão das coisas, a produção total do Rio Grande do Sul, somada a da Argentina e do Paraguai, não chega a 70 milhões de toneladas de soja. O mundo produz quase 400 milhões de toneladas, assim uma quebra de 50 % na safra do cone sul representa menos de 10 % da produção mundial. No milho, a proporção é mais fraca ainda, pois o mundo hoje produz algo como 1,2 bilhões de toneladas do grão, contra talvez a mesma quantidade de milho e soja do cone sul.

Dos alimentos com presença direta na mesa, arroz terá perda pouco significativa com a seca, feijão atualmente é importado do centro do país, assim como as verduras e grande parte das frutas.

É interessante como as coisas se apresentam. Um evento de seca como estamos presenciando, é fatal para muitos produtores, tem forte efeito negativo nas finanças regionais, mas uma influencia menor nos alimentos. Embora alguns possam manifestar alta de preço, não é de se esperar que haja fome por causa da seca regional. A menor capacidade de acesso a alimentação poderá se dar por via indireta, ou seja, pela dificuldade financeira, mas dificilmente algum produto desaparecerá do supermercado pela falta de chuvas. Sinal dos tempos.