O Aero do meu pai

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Eu devia ter uns cinco ou seis anos de idade quando meu Pai comprou o primeiro automóvel. Um Aero Willys, ano 1966, azul claro. Novinho! Era muito bonito, e eu costumava imitar meu pai dirigindo o carro. Fazia o barulho com a boca, trocava as marchas (a alavanca ficava na coluna da direção). Tocava a buzina. Uma vez, queimei minha boca imitando acender o cigarro com um acendedor que o carro tinha. Naquele tempo, os carros tinham até cinzeiro. Era chique fumar.

Bem, aquele era o melhor carro do mundo. Porque era o nosso carro. Mas tinha um concorrente, o Simca. O Simca tinha um motor mais potente, V8 contra o 6 cilindros do Aero. Um estilo mais arrojado, com a traseira imitando um rabo de peixe.

Mas o meu pai dizia que o Aero era melhor. E meu pai era o cara mais sabido do mundo. Eu só tinha seis anos e então, como todo guri, admirava meu velho.

Um dia, o primo do meu pai, junto com a família, veio nos visitar. E ele tinha um Simca. Modelo Presidence. Curioso, fui lá espiar o veículo. Era um luxo só. Bancos melhores, painel mais cheio de relógios, umas calotas mais bem desenhadas, cromados para todo o lado.

Brincamos de muitas coisas, naquele dia, eu, meus irmãos e os filhos do primo do meu pai. Depois, quando foram embora, falei para o velho que o carro do outro era mais luxuoso. Na minha cabeça, alguma coisa estava errada. Meu pai sempre estava certo, mas o nosso carro era pior que o do primo dele.

– Sim, filho, o Simca dele é importado. Diferente dos brasileiros. Só que eles moram em Porto Alegre, onde tem asfalto. E nós, em Cruz Alta, onde as estradas são de pedra e poeira. O Simca é mais fraco, não aguenta essas estradas.

Foi a solução do meu impasse. Meu velho estava certo e tinha uma razão bem justificável. Mas eu nunca tive a oportunidade de andar num Simca. Nem entrar dentro, eu acho, porque minha espiada foi pela janela. O tempo passou, o nosso Aero foi substituído por outros automóveis. Hoje, Aero ou Simca são raros, relíquias de colecionadores. Cada um com seus encantos. No fim das contas, eram os carros nacionais disponíveis para as famílias, naqueles anos 1960. Tinham o mesmo tamanho e carregavam o mesmo número de passageiros, com suas malas. Um mais potente, mais luxuoso, outro mais robusto, diferenças enaltecidas pela propaganda para atrair os consumidores que porventura tivessem condições e quisessem ter um automóvel.

Eram propostas diferentes para enfrentar o mesmo desafio. Foi uma lição que aprendi, e passei a usar para muitas questões da vida. Sempre existe mais de uma maneira de abordar um problema, uma questão, um desafio. Qual a melhor? Impossível responder. Existe o que é melhor para mim. Que nem sempre coincide com o ideal para os outros.