A entrada do prédio era imponente. Portas grandes, de vidro, colunas de pedra polida. Cinza. O homem, vestido com um terno escuro, bem alinhado, entrou e se dirigiu a uma moça que estava a sua espera.
– bom dia, senhor. Queira me acompanhar.
Ele foi. Subiram por alguns degraus de granito polido, esses de cor mais avermelhada, e entraram em um salão onde havia um piano de cauda e um robô. A moça indicou o objeto ao homem e disse:
– esse é o robô de quem falamos. Vou deixa-los a sós. E saiu da sal.
Não havia mais ninguém. O homem cumpriu o combinado. Sentou-se ao piano e interpretou a música cujas notas estavam impressas numa partitura. Era um grande pianista, e gostou muito do efeito sonoro que o piano e a sala, em combinação, produziam. Tocou com coração, e mostrou sua técnica.
Terminada a apresentação, deu lugar ao robô. Que não tinha pernas, nem cabeça, era uma máquina que deslocava-se em uma caixa, sobre rodas. Possuía dois apêndices semelhantes a braços, que terminavam em dedos semelhantes ao do homem.
Foi a vez de o robô interpretar a peça. Igual ao homem, pois o robô havia gravado, com seus sensores especializados, os toques do homem. A mesma sensibilidade, o mesmo toque, inclusive as mesmas falhas. Invisíveis aos ouvintes comuns, mas evidentes aos ouvidos treinados do homem. Em seguida, o robô tocou novamente. Desta vez, os invisíveis defeitos desapareceram, e o que se ouviu foi a interpretação do homem, perfeita.
O homem observava.
Em seguida, nova apresentação do robô. Agora, variou a peça. Fez adaptações que a tornaram mais perfeita, mais sonora talvez.
O homem ouviu. Impassível. Como um lago profundo, de águas paradas. Seus olhos apenas ficaram um pouco menores. Levemente moveu a cabeça, afinando a audição. Silencio total.
O robô, agora, emitiu o som do piano. Interpretou a peça que adaptou, de maneira perfeita, sem o piano. Na meia hora que passou, ele mostrou como o homem tocava, como o autor compunha, as variações do som conforme as diversas madeiras que poderiam ter sido utilizadas para construir o piano. Tudo estava ali. E o homem ouviu.
Então, o robô parou. Silêncio. Estava terminada a experiência.
O homem levantou-se. Alisou o casaco. Endireitou a gravata. Virou-se em direção a porta. Caminhou. Atravessou a porta e novamente estava na entrada do prédio, no granito vermelho lustrado. Não viu ninguém. Desceu os degraus e a porta de vidro abriu automaticamente. Em seguida, estava na rua. Havia uma praça na frente. Caminhou entre as árvores, os gramados, o chafariz, ouviu os passarinhos, os cachorros que acompanhavam as pessoas e viu as crianças brincando.
Fez isso porque era um homem.