Todos sabemos que os anos eram contados ao contrário antes do nascimento de Jesus Cristo. Mas a história tem poucos registros dos últimos dias antes e dos primeiros depois do zero.
Imagino como devem ter sido aqueles tempos da virada. Muito mais emocionantes e complexos que uma virada de século, ou mesmo de milênio, como nossa geração viveu. Porque os anos serem contados ao contrário é uma coisa muito menos difícil de viver do que os meses, os dias, horas, minutos e segundos. Que também corriam ao contrário.
Quem olhar no google, descobrirá que Cristo não nasceu no ano zero. O que se aceita é que nasceu no ano 4, antes de Cristo. Fato que, por um lado, torna estranho o formato do tempo. Mas que, por outro lado, tornou mais fácil a adaptação da vida aos novos tempos.
Explico.
Naquele tempo, o tempo era contado de muitas maneiras, conforme as crenças dos povos. Cada um tinha uma data para o inicio do mundo, e contava o tempo a partir daí. Uma mistura de datas. De repente, um belo dia, nasceu Jesus. Houve então o aviso geral:
– Os tempos serão contados como antes e depois do nascimento de Cristo. A fim de que todos possam se adaptar, o dia primeiro do novo tempo se dará daqui a 4 anos, a contar do sexto dia após o dia de hoje.
Sabemos que Jesus nasceu dia 25 de dezembro. Daí os 6 dias.
Houve, então, muita confusão. O povo não gosta que as coisas mudem.
– Quem é esse tal de Cristo? Diziam uns. – O que pensam que ele é, para determinar essa divisão dos tempos?
– Só quero ver no que isso vai dar. Não acredito que vão conseguir. Para início de conversa, por que não escolheram o Tomézinho, meu filho, que nasceu no dia primeiro de janeiro? Não ficavam esses seis dias pra complicar as coisas.
Mas, aos poucos, o povo foi se acostumando. Os reis magos, a estrela guia, e outros acontecimentos mostraram que o menino trazia alguma coisa de importante com ele. E o pessoal percebeu que, afinal de contas, seria melhor ajustar os calendários.
Falando em calendários, as vendas se aceleraram, com novas opções de marketing. Camelôs anunciavam, nas ruas de Jerusalém, e de outras cidades também, calendários que contavam os dias ao contrário. A partir daquele ano 4 a.C. os anos começavam em 31 de dezembro, e terminavam em 1 de janeiro. Alguns, vistosos e coloridos, já tinham os dias a partir de primeiro de janeiro de 0001. Século I d.C.
Vendiam como água.
E os relógios? Bem, os relógios fizeram outro capítulo.
Os primeiros que surgiram foram os que giravam ao contrario. Seguidos de relógios cujo mostrador apresentava as horas invertidas. O 3 e o 9 em lados invertidos, para ficar mais fácil de entender.
As vendas desses equipamentos fracassaram vergonhosamente. Claro, relógios eram instrumentos caríssimos, e muitas vezes faziam parte da herança. Ficavam na família inúmeras gerações. Então, por que alguém iria comprar um relógio que somente seria útil por 4 anos?
Um relojoeiro, no entanto, teve uma ideia brilhante. E lançou o relógio com mostrador cambiável. Assim, marcaria tudo ao contrário nos próximos quatro anos. Depois, era só abrir a tampa, afrouxar os ponteiros, retira-los, trocar o mostrador, recolocar os ponteiros e novamente fechar o vidro do mostrador. Era chamado “Relógio de Cristo”.
Foi um sucesso. Tido como o maior “case” empreendedor dos tempos “da virada”, como ficaram conhecidos aqueles anos.
O tempo passou, o mundo seguiu seu curso. E esses detalhes parecem esquecidos na história, mas foram muito interessantes.