Paradoxos

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Paradoxo, segundo o dicionário, é uma figura de linguagem, que contém contradição ou incoerência. Tipo o sujeito dizer, “menos é mais”, “chorar de rir”. É interessante que essa contradição, no fundo, tem algo de verdade. Mesmo que chorar e rir sejam atitudes opostas, como alegria e tristeza, é possível chorar de tanto rir. Chorar lágrimas, porque lá numa altura das gargalhadas se espreme os reservatórios lacrimais, e o olho escorre. Mas não significa que rir demais cause tristeza. Por isso que é paradoxo.

Mas existem as situações paradoxais. Outro dia, vivenciei uma delas. Tenho um vizinho que fez um plantação grande de arroz, e passa os produtos necessários para a lavoura de avião. O avião faz muitas das manobras em cima da minha casa. É uma coisa chata demais. Muito barulho e o risco de um acidente. No caso, tanto pode o avião cair como inadvertidamente derramar um produto tóxico. Não existe lei que proíba um avião agrícola de manobrar em cima de uma casa isolada, no interior. Diferente da cidade, onde é proibida a circulação desse tipo de aeronave.

Com relação a isso, conversei com alguns amigos. Mostrei minha insatisfação e argumentei que casa é casa, seja na cidade, seja no campo. Sempre liguei a vida na campo a noção de saúde. Imaginando que viver na campanha fosse mais saudável que viver na cidade. Um amigo disparou uma frase, que firmou o paradoxo:

– As pessoas precisam entender que as áreas rurais são destinadas a produção de alimentos, e não a moradias. Para morar existem as cidades.

É um paradoxo, sem dúvidas. Não viver em áreas de produção de alimentos, porque podem não ser saudáveis. Mas de lá saem produtos alimentares, que, em última análise, são a fonte da saúde. Não é mentira, não é falso. Porém, observado todo o contexto da situação, um ponto joga contra a frase do meu amigo. É preciso ver o todo. Se não é saudável para os humanos viverem, não é também saudável para a natureza.

Outro paradoxo do momento. A exploração de petróleo na margem equatorial. Lá no Pará, região da foz do rio Amazonas, onde será realizada a COP 30, ainda nesse ano. Existe o perigo ambiental, de vazar óleo numa região ambientalmente frágil. Todavia, o petróleo parece ser importante para as exportações brasileiras. Quer dizer, mais dinheiro em caixa. A Petrobrás demonstra por A mais B que pode proteger a região de todos os riscos. Não tem perigo. Então, não tem problema, e é bom.

Mas tem o paradoxo. E o paradoxo é que o petróleo é a maior fonte de poluição do planeta. Daí saem os combustíveis que produzem gases de efeito estufa, daí sai o plástico que polui os oceanos.  Então, é uma questão de olhar mais de longe. Não é o perigo local, é perigo global. Nesse caso, o que pode parecer seguro é perigoso. E o Brasil, que pretende ser líder de energias limpas, e sedia uma importante conferencia ambientalmente protecionista, discute perfuração de poços bem onde sediará tal reunião.

Enfim, paradoxos.