Paranoia

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Tem um vídeo na internet que é uma entrevista do Jô Soares com o Bill Gates, lá na década de 1990. O bilionário norteamericano descrevia como seria o mundo trinta anos depois. Aparelhos portáteis que permitiriam chamadas de vídeo, que se conectariam com os bancos, as lojas e tudo o mais. Então não seria mais necessário usar dinheiro, nem cartões, nem carteira no bolso. Tudo no aparelhinho.

Descreveu o smartphone. Que somente seria lançado dali a uns quinze anos. E somente realizaria o que ele descrevia trinta anos mais tarde.

Uma verdadeira maravilha. Ninguém mais vive sem um negócio desses.

Mas, e sempre tem um mas, Bill Gates não descreveu alguns problemas dessas maquininhas.

Porque o mundo que ele imaginava é perfeito. Diferente do mundo real.

E os problemas estão ligados ao que é o ser humano. E está aqui um deles: esses aparelhos são facilmente roubados. E aí, além de deixar o sujeito na mão, ainda permite ao ladrão acesso a seus dados, suas contas nos bancos, enfim, a tudo na vida do roubado.

Existem também os sequestros, quando o dono do telefone é obrigado a fornecer senhas e códigos. Eu vi, no noticiário da televisão, que as pessoas estão usando dois celulares, em São Paulo. Um somente para conversar, e que pode ser levado na rua, e outro, com as contas dos bancos, que fica só em casa.

Assisto essas coisas e fico pensando se, afinal de contas, os Bill Gates da vida são uns caras que vivem num mundo à parte ou se as coisas são mais complexas do que a gente pensa. Minha teoria paranoica se baseia no fato de que esses problemas todos com os celulares não diminuem a atração que eles exercem nas pessoas. Pelo contrário. Cada vez que um celular é roubado, um celular é comprado. E se o sujeito precisa comprar dois, porque tem medo de que um deles seja roubado, então dois celulares são vendidos.

Talvez as coisas não sejam tão assim e é preciso deixar de lado a paranoia de lado. As coisas são como elas são. Se, de um lado, existem forças que procuram organizar, controlar, robotizar, o roubo faz parte das forças de outro lado que sempre vão mostrar que humano é humano, complexo, cheio de qualidades e defeitos, e que se adapta às novidades para continuar sendo o que é.