Que bobagem

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Não sei se todos os leitores estão lembrados da bióloga Natalia Pasternak, e nem se acompanham a polemica criada em torno do lançamento de seu novo livro, intitulado “Que Bobagem”.

Bem, relembrando a nós todos, a dra. Natalia ficou conhecida nacionalmente por suas posições quanto ao enfrentamento da pandemia de Covid-19. Defendeu o isolamento e  posicionou-se fortemente contra qualquer forma de tratamento precoce ou alternativo da doença. Defendeu sempre a postura científica, e não aceitava nenhum tratamento que não tivesse comprovação na ciência. Na época, tornou-se uma celebridade, porque defendia o que a maioria das pessoas pensava ser o mais correto, afinal todo mundo temia o coronavirus. Suas previsões e argumentações tinham por base a ciência. Explicando aqui, mais uma vez, a ciência ocidental. Que tem base no pensamento do francês René Descartes, que viveu no século XVI. Segundo ele, todos os fenômenos na natureza podem ser explicados pela ciência. E comprovados pela ciência. Até mesmo o movimento de uma folha seca que cai de uma árvore pode ser descrito por uma fórmula matemática. Porém, se tudo pode ser explicado, então pode-se concluir, erroneamente, que o que não pode ser explicado não existe.

Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia, sentenciou o inglês Shakespeare, mais ou menos na mesma época que Descartes.

Agora, no livro que publicou, Pasternak critica o que ela define como não ciência. Cita acupuntura, quiropraxia, psicanálise, homeopatia, como falsos métodos que, segundo ela, tem o mesmo efeito de um placebo. Placebo é aquela pílula de açúcar que alguns tomam, enquanto outros tomam remédio, para se testar o efeito do remédio.

O resultado foi uma crítica dura e desfavorável ao livro. O que me leva a pensar que o sucesso, muitas vezes, está ligado a dizer o que os outros querem ouvir. Nas duas ocasiões, a doutora expressou a defesa da ciência. Ou seja, precisa de comprovação, baseada em números, estatística, matemática. O uso de ivermectina, cloroquina ou outras práticas, para ela, não funcionaria para combater o vírus, pela mesma razão que entende que dar umas torcidas, ou espetar umas agulhas, em alguém com profundo sofrimento possa aliviar suas dores na coluna. Nenhum dos tratamentos foi comprovado pela estatística.

Já dizia Dom Quixote de la Mancha, no creo em brujas, pero que las hay, las hay.

De conclusivo, tiro para mim que a dra. Pasternak é coerente. Defende a ciência. Isso não significa que estivesse cem por cento certa nas suas previsões e posições durante a pandemia, nem agora no seu livro. Porque, tomando como exemplo os tratamentos que ela cita como não cientificos, muitos de nós sentimos em nós mesmos seus benefícios. Assim como na pandemia, muitos optaram por abordagens “não cientificas” e sobreviveram.

Outra figura importante na ciência brasileira, o astrônomo Marcelo Gleiser, trabalhou com a Igreja na tentativa de unir ciência e espiritualidade. Perguntado por que aceitara participar de projeto tão controverso, respondeu que aceitou por entender que o homem não é só cérebro, matemática ciência. É também espiritualidade. No que está coberto de razão.