Narrativa. Agora a moda é narrativa. A narrativa do governo, do técnico, no meu entender significa a versão do fato. E versão do fato, ainda que importante, tem lá seus perigos. Porque fato é fato, verdade é verdade. E a palavra narrativa traz uma versão moderna, inovadora, de uma visão nem sempre é verdadeira do acontecido.
O que é perigoso, convenhamos.
Outra palavra atual que não me agrada é “facilities”. O setor de facilities, empresa de facilities, é assim que se ouve. Inglesidade para a terceirização. Até onde entendo as coisas, facilities são facilidades, quer dizer, tu contratas alguém para fazer o que não quer fazer.
A lista continua. Das palavras que não me agradam. “Atacarejo”. Cá para nós, que palavra com som feio. São esses supermercados menos glamorosos, onde se pode comprar muita coisa em fardo. Porque nos supermercados elegantes, fardo só para cerveja. E olhe lá. Os atacarejos são mais baratos e populares também. Lá compram as famílias que fazem seus ranchos e os pequenos estabelecimentos comerciais, que não tem acesso aos grandes atacados.
Mas para mim, atacarejo soa como cacarejo, e me lembra, não sei porque, galinhas. Então minha cabeça se confunde e cria antipatia pela palavra.
Combo. Televisão, celular, até lanches, agora são combos. Deve vir de combinação. Significa o mesmo que pacote. Mas tem um som horroroso.
Teriam que inventar palavras novas para esses significados.
A cereja do bolo das palavras e expressões que me desagradam é justamente “cereja do bolo”. O que querem dizer com isso? Acabamento, certamente. Mas, olhem, ainda domingo, no dia dos pais, compraram uma torta aqui em casa. De bombom. Uma maravilha. Só que bem no meio da cobertura tinha uma cereja. A cereja do bolo. E tocou para mim a fatia com a cereja do bolo. E aquela frutinha, em conserva, tem um gosto que me desagrada. Não gosto mesmo.
Concluo que a cereja do bolo é uma surpresa desagradável. E assim desconfio do significado dessa expressão. Se fosse eu o inventor das expressões, optaria por algo como “o bombom do bolo”.