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A NOITE

         Quem me viu e quem me vê…

         A noite foi a minha grande parceira em tempos idos… foi…

         Ainda quando eu era estudante/atleta e morava na minha querida Bagé, noite para mim não existia, pois sempre tínhamos algum compromisso no dia seguinte, que era estudar pela manhã (08:00 h, a primeira aula) e, já às 14:00 voltávamos para o meu saudoso e vetusto Colégio Nossa Senhora Auxiliadora…treinos de vôlei, de basquete, técnico das seleções de categorias etárias abaixo e, para findar à tarde, a extraordinária Banda Marcial do Auxiliadora.

         Nos intervalos, pesquisas na biblioteca do colégio e, em meu último ano de estudos, ainda a responsabilidade de encaminhar o GENSA (Grêmio Estudantil Nossa Senhora Auxiliadora), do qual tive a honra de ser presidente.

         Então, noite só para estudos e às vezes com os colegas, para algum trabalho em grupo, sendo que no 3° ano Científico os encontros eram para estudar para o vestibular.

         Dona Iolanda fazia um bule de café preto para nós, umas “broinhas” e, o resto era “queimar a pestana” e batalhar pelo futuro.

         Cursinhos pré-vestibular?

         Era para quem podia…

         Fecha a cortina e vamos para o segundo ato…Encruzilhada do Sul-RS.

         Foi aqui que a noite “descortinou-se” para mim e, como amor à primeira vista, pois que nunca tinha sido apresentado para ela em sua totalidade, me apaixonei.

         O toque magistral de sua brisa, as notas musicais de um sonoro violão, o bar, uma cubinha…as parcerias e as cantorias…

         Mágica, a minha noite fez-se mágica.

         Não tinha como não se deslumbrar com tais descobrimentos e, claro, ter e sentir a paixão tórrida pela noite, pois que tudo era diferente, encantador, esplendente…

         Era verdade, a noite fez-se para os profissionais e não para aqueles que, como eu lá da minha querida Bagé, tinha compromissos ainda por cumprir, ao contrário daqui que era apenas e tão somente trabalhar e com muita alegria no outro dia.

         Meu saudoso colega e orientador de serviços, Hilário Darcy Soprano, certa feita me disse uma grande verdade e um grande e sábio conselho: se tu é macho para virar a noite na festa, tens que ser também muito macho para no outro dia trabalhar e com muita alegria.

         Não que sempre estivesse na noite encruzilhadense, não, isso não…, mas todas as vezes que tive a oportunidade, todas as vezes sempre e sempre trabalhei e com muita alegria no outro dia, pois que a noite era sempre inebriante e o outro dia o labor tinha o gosto magnificente, era somente alegria.

         E o que tudo isso, hoje, virou?

         Pois é… “o tempo passa e as pessoas mudam”, como diria minha querida “contracunhada” e amiga Mara Rassier…

         Hoje a noite deixou de ser a madrugada, a mesa de um bar na calçada, o violão, a seresta, a cubinha… e a carinhosa brisa noturna…

         Não só Londres, onde os pubs fecham às 23:00 h, mas tendo em vista que a população, principalmente do nosso estado do RS, amadureceu muito (60+), ou seja, já é uma das mais velhas do nosso país, muitas cidades aprenderam a começar a noite mais tardar às 19:00h e, dão tudo por encerrado lá pelas 11 horas da noite, tal qual a Cinderela.

         Hoje, para nós, não existe mais sol alto, tal qual os magníficos carnavais, a avenida, o samba-enredo e a sua interpretação, os salões do Clube do Comércio…e as saudades das fantasias, dos paetês, dos surdos e tamborins…

         A noite me foi indiferente, fria, calculista e, com nenhuma consideração, me deserdou sem eu nem mesmo perceber.

         Não rimo mais com as estrelas, donas altivas das madrugadas da boemia, nem mais as vejo…é possível isso?

         Ah, que saudades…

         A vida hoje me olha com seus olhos complacentes.

         Aprendi a adorar o sol, o dia, as manhãs produtivas e silentes, quando rimo os meus versos na verdejante claridade e lembro das canções que a noite fez para mim.

         À noite, se é que existe assim como nós a conhecemos, ficou para os outros, mas ainda ela não é uma ausência preferida, ela me dá um bom vinho, ainda grandes parcerias, violão e cavaquinho e ainda canto o canto que espanta os males…

         Depois a madrugada e a cama para fazer loucuras tantas…como dormir.

         A noite já é um lugar que não mais existe… não como dantes…a brisa, as mesas na calçada, o violão e as cantorias da boemia…