Caso Kiss: “Meu irmão e Luciano não quiseram matar ninguém”, diz integrante da banda

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Julgamento é o mais longo da história do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul, ultrapassando o júri do caso do menino Bernardo
O depoimento do percussionista da Banda Gurizada Fandangueira, Márcio André de Jesus dos Santos, foi a última oitiva realizada nesta segunda-feira (6), sexto dia de júri do Caso Kiss. Com isso, o julgamento já é o mais longo da história do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul, ultrapassando o júri do caso do menino Bernardo, ocorrido na Comarca de Três Passos, em 2018. Na ocasião, o julgamento de quatro réus (o pai da criança, a madrasta, uma amiga dela e o irmão) durou 5 dias (mais de 50 horas, no total).

Antes de Márcio, houve as oitivas de Stenio Rodrigues Fernandes, Willian Renato Machado e Nathália Daronch, respectivamente, testemunha e vítimas arroladas pela defesa de Elissandro. A defesa de Mauro Londero Hoffmann abriu mão de uma testemunha. Já foram realizadas 20 oitivas, restando outras 8.

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Depoimento

Não foi a primeira vez que a Banda Gurizada Fandangueira tocou na Boate Kiss utilizando artefatos pirotécnicos. A afirmação é de Márcio André de Jesus dos Santos, testemunha indicada pela defesa do irmão dele, o réu Marcelo de Jesus dos Santos. Ele também disse que o uso de pirotecnia era de conhecimento do sócio da Kiss, Elissandro Callegaro Spohr (Kiko).

“Meu irmão e Luciano não quiseram matar ninguém. Se eu disser para os pais que eu entendo a dor deles, estou mentindo. Eu entendo a nossa dor”, afirmou. “Tenho um filho de 9 anos, nunca cantamos parabéns para ele. Não comemoramos mais o aniversário da nossa finada mãe. Se fizer um almoço lá em casa, tem que ser em silêncio. Porque as pessoas dizem ‘olha lá, os caras da Kiss comemorando’. Essa é a nossa dor”, ressaltou Márcio. Ele também disse que não aceitou depor na condição de vítima, mas apenas de testemunha, porque os companheiros dele de banda não tinham a intenção de matá-lo.

De acordo com o relato de Márcio, a Gurizada Fandangueira foi formada no final de 1998 e, desde então, utilizava esses recursos de pirotecnia. “Era um assunto que dava certo, que nunca prejudicou ninguém”. Danilo (o gaiteiro da banda que faleceu no incêndio) era o líder do grupo e quem fazia as negociações. Luciano era o roadie e quem cuidava dos efeitos especiais. “É um cara de bom coração, pró-ativo, que não esperava as coisas acontecerem”. Fazia 7 meses que o produtor estava com a banda.

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Com estilo sertanejo, o grupo agradava especialmente o público universitário. Pelas apresentações, recebia em torno de R$ 700 reais. Individualmente ganhavam cerca de R$ 50 reais, quando havia a participação de músicos de fora de Santa Maria.

Na noite do incêndio na Boate Kiss, quando foram acionados os fogos de artifício, Márcio disse que viu o princípio de fogo e cutucou o irmão, Marcelo. A música parou. “A sensação que eu tive era de impotência”. A testemunha disse que foi alcançado um extintor de incêndio e um rapaz tentou usar, mas não funcionou. “Ninguém atinou em avisar ninguém. A nossa expectativa era apagar o fogo. Quando a gente viu que não ia conseguir, já era tarde demais”, afirmou o ex-percussionista.

Na fuga, Danilo pediu que Márcio afrouxasse a gaita das costas dele. “Danilo foi encontrado (sem vida) dentro da boate com a gaita pendurada no peito”, contou o ex-colega. Quando a correria começou, ele disse que Marcelo perguntou pelos “guris” (os outros integrantes da banda), mas não encontravam ninguém. Marcelo ficou desorientado e quase desmaiou. Foi Márcio quem arrastou o irmão para a saída. Ao chegar na porta, caíram e foram esmagados pelos que vinham atrás. “Era muito desespero, uma tristeza”.

Márcio disse que viu Kiko já fora da boate, “em desespero”. “A polícia e os bombeiros não tinham discernimento para nos ajudar, imagina nós”, afirmou.

Fonte: Portal Arauto / Tribunal de Justiça do Estado