Não sei quem é…

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Esta se passou na extinta Cactu’s Pizzaria.

Verdade verdadeira, e vem do seio da família.

         Pois uma pessoa muito próxima a mim, junto com familiares, marcou uma deliciosa pizza (as pizzas da Cactu’s eram maravilhosas) naquele estabelecimento.

         Chegado a hora, dirigiu-se para lá e, em chegando no recinto, mal ultrapassou a porta principal e, lá do fundo, levantou-se um rapaz que, abrindo um largo sorriso, gritou:

– Fulana!! Como estás, como vais, que saudades de ti!!

         Surpresa com aquela acalorada manifestação de carinho, foi tomada de sobressalto e, respondeu na mesma moeda.

– Oi, tudo bem? Eu vou bem e tu? Prazer todo meu em te rever.

– Que saudades, e a tua mãe, como vai?

– Vai bem, graças a Deus…está chegando por aí, logo, logo…

         Sabe quando você sente que a situação vai ser muito embaraçosa?

Pois a tal da amiga sentiu que a conversa não ia decolar, pois não tinha a menor noção de quem era aquela criatura.

         Não podia perguntar pelos parentes, porque não sabia quem eram os parentes, pela mãe e pelo pai muito menos, tinha medo de dar um fora, esposa, filhos, nem pensar…

         E se esta pessoa não fosse casada, ou, se fosse separado, divorciado…vai saber…

         E o papo, de parte dele, ia de vento em popa, perguntando por pessoas da família dela e, ela, totalmente perdida em toda aquela recepção.

         Como sair daquela situação?

         Volta e meia tentava desvencilhar-se com algum olhar em direção a mesa que deveria ocupar, deixava alguma evasiva no ar, mas o interlocutor, cada vez mais entusiasmado, engatava uma pergunta na outra.

         Tanto foi, tanto foi, naquela situação excessivamente constrangedora que enfim, chegou à mãe dela.

         Pronto, estava salva!

         Sua mãe, como professora e bastante conhecida, haveria de saber quem era aquele fulano tão íntimo, tão agradável, tão solícito em querer ser conhecido e tentando relembrar outros tempos.

– Olha ali, tua mãe vem chegando! – exclamou ele, dando mostras de que verdadeiramente conhecia toda a família.

– Como vai a senhora? Como tem passado? Estava aqui a falar com a sua filha e relembrando os velhos tempos…

         Só que estes velhos tempos, mesmo conhecidos para a Fulana, eram totalmente nebulosos, porque não se lembrava daquela criatura, de jeito nenhum.

         Que situação!

         E o papo continuou, agora com a Fulana e a mãe dela…

         Acontece que a sua mãe, por tamanho azar, também não se lembrava daquela pessoa, contudo, mais tarimbeira, deu corda para que o interlocutor falasse mais coisas da sua vida, no intuito de tentar descobrir, afinal de contas, quem era o dito cujo.

         Lá por um dado momento, o interlocutor alegre por ter encontrado aquelas pessoas, cita a sua irmã, que morava, segundo ele, em outra cidade e em outro estado.

         Eis que, por mais espanto, também não se lembrava da irmã.

         Mais sufoco, mais vergonha…já suava frio, com um princípio até de tonturas…

         Pelo amor de Deus, quando tudo isso vai acabar?

         Que filme de horror estava vivendo.

         Ao citar a sua irmã, nosso interlocutor notou que a Fulana deu ares de que não se lembrava dela, e não se lembrava mesmo…talvez jamais teria visto, teria falado com esta irmã…

         O rumo da prosa já ia de mal a pior e, agora, entrava naquele enredo a irmã do faceiro amigo…mais a mãe da Fulana tentando adivinhar, descobrir, imaginar com quem estava falando.

         Puxa vida! Agora mais a irmã do sujeito…outra cidade, outro estado…

         Foi então que a sua mãe, vendo que a fulana não se lembrava (ela também não, deu um tiro na lua…), e emendou uma célebre ajuda, no intuito de terminar com toda aquela confusão e tascou:

– Até já estive na casa da irmã dele e lá pernoitei…lembra?

         Por Nossa Senhora da Lembrança e do Socorro…aí sim que o caldo entornou de vez…

         A tal da ajuda ou mentira se transformou num desmedido fracasso…pior a emenda do que o soneto…

Foi quando, então, nossa personagem totalmente tomada por interrogações, explodiu em sonoras e retumbantes gargalhadas… extravasando todo o seu nervosismo e apreensão…

         Tipo: pessoa com diarreia que não conseguiu chegar até o banheiro…e tascou em alto e bom tom, para que todos pudessem ouvir:

– Chega! Eu não sei quem tu és!!

         Alívio geral.