O Avesso da Pele: entenda a polêmica envolvendo o livro e uma escola de Santa Cruz

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Uma polêmica envolvendo o livro nacional O Avesso da Pele, de autoria de Jeferson Tenório, e um vídeo da diretora da Escola Ernesto Alves, de Santa Cruz do Sul, tomou conta das redes sociais desde sexta-feira (1º).

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Na publicação, a diretora, Janaína Venzon, em vídeo, mostra trechos da obra em que, segundo ela, há palavras de baixo calão. Além disso, nos trechos exemplificados pela profissional há, ainda, a descrição de um ato sexual entre os dois personagens.

No vídeo, Janaína questiona como o livro pode fazer parte do Plano Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do Governo Federal, e estar indicado para leitura de estudantes do Ensino Médio quando aborda tais aspectos. Diversas pessoas se manifestaram nos comentários da publicação apoiando o posicionamento da diretora.

O Avesso da Pele, obra publicada em 2020 no Brasil, e ganhadora de diversos prêmios, passou a integrar o PNLD em 2021. Conforme o Ministério da Educação, o plano avalia e disponibiliza publicações didáticas e literárias às escolas das redes federal, estadual e municipal de todo o país.

A diretora da Escola Ernesto Alves, disse ao Portal Arauto que os livros foram entregues no final do ano passado e que, neste ano, ao início do período letivo, as obras começaram a ser analisadas. Neste momento, conforme ela explica, os profissionais teriam tido contato com o conteúdo da obra de Jeferson Tenório. “É preciso que fique claro que a escola não teve direito a escolher qualquer obra literária no ano passado. Além disso, tivemos um problema com meu CPF no ano passado, que é usado pela supervisora para fazer o cadastro das solicitações dos livros didáticos, aqueles de português, matemática e demais matérias. Até chamamos alguém da 6ª CRE para nos auxiliar”, esclarece.

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Em razão deste problema, o educandário, de acordo com Janaína, iria receber os livros selecionados por outras escolas. “Foi somente na semana passada que ficamos cientes das palavras e das expressões usadas. Imagine uma diretora de uma escola que preza pela educação, bons valores e costumes permitir que este livro entre para acesso dos alunos, os pais aceitariam isso? Aceitariam que uma escola simplesmente desse o livro sem ter noção do conteúdo que ele tem?”, questiona.

Janaína relata ainda que o vídeo publicado nas redes sociais teve o intuito de alertar e informar a comunidade escolar sobre os temas abordados na obra nacional e os motivos dela não ser utilizada em sala de aula. “Eu, Janaína, não tenho nada contra a obra de Jeferson Tenótio. Eu até li o texto, o que ele fala, mas a minha questão é que dentro dos livros tem estas palavras de baixo calão que não trabalhamos dentro da escola. Não é vocabulário para dentro de sala de aula.” 

Recolhimento das obras

Diante de toda a repercussão do caso, a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE), com sede em Santa Cruz, orientou o recolhimento dos exemplares disponíveis na escola.

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A reportagem do Portal Arauto entrou em contato com o coordenador, Luiz Ricardo Pinho de Moura, que encaminhou o posicionamento da Secretaria Estadual de Educação (Seduc). “Sobre as obras previstas no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informa que este é um trabalho realizado diretamente pelas equipes gestoras das escolas, conforme priorização de faixa etária dos alunos, etapa de ensino, realização de projetos pedagógicos e contextualização prévia do material trabalhado em sala de aula com as turmas. A Seduc reitera ainda que os livros aprovados passam a compor um catálogo no qual as escolas podem escolher, de forma democrática, os materiais que mais se adequam à sua realidade pedagógica, tendo como diretriz o respeito ao pluralismo de concepções pedagógicas.”

“Não à censura”, diz editora

A editora Companhia das Letras, responsável pela publicação de ‘O Avesso da Pele’, se manifestou, neste sábado (2), em suas redes sociais. Na publicação, a editora disse que soube do ocorrido em Santa Cruz e esclareceu que o livro “foi aprovado por uma banca de educadores, especialistas e mestres em literatura e língua portuguesa juntamente com outros 530 títulos.”

Ainda na postagem, a Companhia das Letras explicou que para chegar até o educandário santa-cruzense, o livro precisou passar por uma aprovação da equipe diretiva. “[A] própria diretora, que assinou o documento de ‘ata de escolha’ da obra e agora contesta o conteúdo do livro. Essas dados são transparentes e públicos”, diz um trecho do pronunciamento. “Repudiamos veementemente qualquer ato de censura que limite o acesso dos estudantes a obras literárias sob pretexto de protegê-los de conteúdos considerados ‘inadequados'”, reforça a editora.

Fonte: Portal Arauto