O futuro na soja

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Condor é uma cidadezinha no noroeste gaúcho. Conta com uns cinco mil habitantes. Fica ao lado de Panambi, município do qual se emancipou. Panambi já é maior, e tem várias indústrias metalúrgicas. Condor não, é uma cidade rural. Na região se planta soja e trigo.

Mas Condor encontrou um nicho no ambiente da produção de soja e está avançando na produção de sementes. O município está prestes a tornar-se o maior produtor de sementes de soja do Brasil.

Estive em uma das empresas produtoras de sementes, em Condor. Chama-se Sementes Costa Beber e lá participei de uma manhã de campo. Fiquei impressionado com o que vi. Produzem 750 mil sacos de semente de soja, por ano. Com isso, 1,2 % da área cultivada com soja no Brasil usa sementes dessa empresa.

A empresa é familiar. São dois irmãos e uma irmã que administram tudo. Mais de trezentos funcionários. Conversei com um dos proprietários, e ele explicou que quando resolveram produzir sementes, procuraram conhecimento com especialistas no seu objetivo. Que existem, embora a pesquisa não seja muito valorizada no Brasil. De fato, um vídeo apresentado no inicio da manhã, trouxe três especialistas, um falando sobre o plantio direto, outro sobre a necessidade de precisão no plantio, enquanto o terceiro explicou a importância das sementes. Capacidade de germinação e viabilidade, para produzir uma boa lavoura.

Estou já há uns anos afastado das lavouras, e dedico meus dias a cuidar de umas vacas e da natureza da minha propriedade. Por isso fiquei tão impressionado com o que vi. Precisão e impecabilidade. Os armazéns da sementeira são enormes, o piso brilha.  É um mundo diferente. Não é à toa que o Brasil tornou-se líder na produção de soja. Quando comecei a trabalhar, no final da década de 1970, as boas lavouras conseguiam produzir 35 sacas por hectare. Hoje, falar em 80 e até 100 sacas por hectare não é mais absurdo. Resultado do trabalho de pesquisa em variedades, sistemas de cultivo, máquinas, adubos, defensivos.

É muita evolução.

O dia de campo levou mais de 1.500 produtores até lá. Conversei com agrônomos até  do Paraguai que estavam presentes. Entre conversas e palestras, ouvi expressões de revolta por parte de produtores presentes, afinal esse ano, apesar da boa safra que se prevê para o nosso Estado, os baixos preços pagos aos produtores indica prejuízo financeiro.

Vejo razão no mau humor que presenciei. Por outro lado, também senti a convicção de que há necessidade da profissionalização do produtor. Conhecimento do negócio, dentro e fora da porteira. É um negócio muito grande, a produção de soja. Que envolve muito países, culturas, mercados diferentes. As empresas produtoras de insumos, máquinas e sementes já estão num patamar profissional, foi o que vi. E embora o negócio seja cíclico, com altos e baixos na demanda e consequentemente nos preços, está consolidado. A cultura da soja está aí, aí vai ficar e será cada vez mais técnica.