Os adubos e as táticas de comércio

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Comprei dois sacos de adubo, fórmula 4-21-21. Paguei 264 reais por cada um deles. Não sou mais plantador, e o adubo vai servir para uns canteiros de capim elefante. Mesmo assim, por hábito, faço as comparações. O saco de arroz, preço ao produtor, está em torno de 65 reais. Assim, são necessários 4 sacos de arroz para comprar um saco de adubo.

Lá pela metade dos anos 1980, quando comecei a plantar arroz, o seu Norberto, meu vizinho, experiente na atividade, me alertou: – o normal é trocar 1 saco de arroz por 1 saco de adubo. Se conseguir por menos, melhor. Se for mais que isso, melhor não comprar.

Como pode que ficou tão diferente? A demanda por adubos cresceu muito, no Brasil. A produção brasileira de adubos diminuiu, e os fretes internacionais estão mais caros.

Entre a comunidade de origem alemã, corre o dito de que os gringos, ou descendentes de italianos, são comerciantes espertos. Sempre se diz que quando a gente precisa comprar uma coisa do gringo, aí é que ele não quer vender. Só para fazer o preço subir.

O arroz, embora seja produzido para os brasileiros comer, usa os mesmos insumos da soja, cultura de exportação. A lavoura de soja cresceu muito, daí vem o aumento na procura, e daí vem o aumento dos preços. Pelo que descobri, atualmente a China tem papel preponderante na produção de adubos e também nos fretes em geral. São os donos dos navios que atravessam os mares com produtos de todos os tipos.

Interessante que a China é nosso maior cliente, compra praticamente toda a soja que produzimos. Atualmente, compra também muita carne brasileira, e madeira. Em troca, vende adubos, defensivos agrícolas, eletroeletrônicos, remédios, e outras coisas. Outro dia, vi uma tábua de carne fabricada na China, á venda no Brasil.

Essa tábua de carne é esquisita, porque é uma coisa simples, que pode ser feita por qualquer um, e a chinesa foi provavelmente fabricada com madeira comprada de nós. Enquanto causa espanto o fato de um pedaço de madeira viajar tantos mares, fica demonstrada a engenhosidade chinesa no aproveitamento de matéria prima e uso de espaço dos fretes. Os navios precisam viajar carregados, essa é uma lógica da economia do frete.

Então, como se fossem os novos gringos, os chineses ensinam, para quem estiver interessado em aprender, fundamentos do comércio. Precisam de nossa comida, e usam táticas para baratear o custo, via aumento de preços nas mercadorias de troca. Percebendo que há aumento de demanda de insumos, informam que os insumos estão escassos. E que os navios não estão disponíveis para o transporte. Como os gringos, aqueles de quem falei antes, que quando alguém queria comprar, diziam que não queriam vender.

Enquanto isso, do lado de cá do oceano, nós descobrimos ser nosso país a maior fronteira agrícola a ser explorada. “Alimentaremos o mundo”. E, enquanto vozes ao redor do globo nos condenam, desmatamos e destruímos pastos para produzir mais. E se o Brasil dissesse “o adubo está caro, vou plantar com menos e produzir menos. Não vou mais desmatar, e assim vou produzir menos. Os navios dos outros me deixam inseguro, vou transportar com os meus, esperem eu construí-los”, o que será que aconteceria?