Supersafra meio triste

0
1233

Enquanto se desenvolve a Expodireto, expoente da agropecuária brasileira, penso em alguns pontos que merecem reflexão. O presidente da Cotrijal, produtora do evento, declarou ao jornal Correio do Povo, “O importante é a gente ter uma excelente safra, ter produto. O preço é uma questão de mercado”. Produto teremos, provavelmente a maior safra de soja do Rio Grande. Mesmo assim, o preço preocupa muito. Os produtores temem prejuízo.

Me parece muito claro que os produtores focam na produção. A tecnologia literalmente entra em suas propriedades, de camionete. São as empresas de assistência e revenda de produtos. Todavia, as informações de mercado e estratégias comerciais estão ausentes.

Seria esse o nicho de participação dos governos no negócio? Pode ser, como temos o exemplo do milho nos EUA. Eles produzem uma enormidade de milho. E, de uma maneira geral, o custo de produção do milho ultrapassa o valor de mercado do produto. É onde entra o governo. Subsídio. Uma vez, me explicaram que funciona mais ou menos assim. Vamos supor que o custo de produção seja 50 e o mercado esteja pagando 40. O produtor, então, apresenta a nota de venda ao governo e recebe os 10 de diferença. Com isso, conseguem duas coisas. Uma, que é manter a produção. Outra, que é oferecer para a indústria em geral, milho barato. Lá, diferentemente daqui, o milho vai em tudo. O açúcar deles é feito de milho. Confinamento, o etanol deles é milho.

Claro que fica a questão: de onde vem o dinheiro que subsidia todo esse milho? Bem, aí já é outra questão.

Aqui, ao que tudo indica, a participação do governo será no ajuste das dívidas. Auxilio na prorrogação de débitos, equalizações. Medidas importantes, porém um sentimento de tristeza. Numa safra tão bonita, é uma pena o prejuízo.

Interessante uma frase que ouvi de um analista, não lembro quem, e nem lembro bem como foi. Mas foi mais ou menos isso, que em tempo de crise o dinheiro muda de mão. Porque o dinheiro não desaparece.

Assim, olhando de qualquer lado que se olhe, salta aos olhos a necessidade do reconhecimento, pelos governos, de que a produção rural é importante, fundamental, para o Brasil. Uma vez reconhecido o fato, atuar no sentido de proteger a produção. Via organização, informação, subsídio quando necessário. Em outras palavras, o Brasil assumir o negócio.