CISMAS

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DEFENDER-SE…

 Não sou psicólogo e muito menos analista da vida dos outros, mas fiquei bastante intrigado com uma afirmativa que “pesquei” numa entrevista radiofônica…

– …cansei de me defender da vida!

        Foi assim, “na lata”, que o entrevistado num papo descontraído, disse muito simplesmente.

        Sei lá por que cargas d’água, aquilo me chamou muito a atenção.

        A gente, muitas das vezes fica surpreso com algumas coisas, no entanto a frase que ouvi, naquele momento, originou outros tantos argumentos que, de fato e com sinceridade, tive a oportunidade de concordar.

 Para tanto e talvez como um exemplo, um pouco da minha história, como referência ao fato.

        Sim, isso sim: aquele momento me surpreendeu, mas não me embaraçou…e, posso quase ter certeza de que o que eu deduzi, foi quase o óbvio, pois quem me conhece e porventura já leu o meu livro, “E A Vida, Continua?”, sabe que mesmo sem nunca ter desejado estar, tenho alguma “estrada” neste assunto.

        Defender-se da vida…

        Talvez tivesse ali uma solicitação implícita de socorro, mesmo que muito sutil, pois que ninguém sabe realmente os problemas íntimos que as pessoas convivem.

        Parafraseando Rubem Braga, escritor e grande cronista brasileiro, certa feita ele afirmou: “Essenciais são os esgotos da alma”.

        O que eu quero dizer com isso?

        Que tentar “esgotar”, no sentido de exaurir, de esvaziar, de secar as agruras da alma, tem um grande significado, ou seja, a vontade de poder “estar” livre, leve e solto das sombras dos dias que são vividos, nesta longa e íngreme caminhada.

        Defender-se da vida…

        Senhor Meu Deus, quanto de significado encerra-se nesta despretensiosa frase, libertada das amarras da alma e do coração, naquele diálogo?

        Verdadeiramente?

        Hoje me sinto importunado em talvez não ter podido falar (se bem que isso era missão de quem era o interlocutor) àquele comparsa, um pouco mais do entendimento de que vivemos num mundo de expiações.

        E estas tais expiações são exatamente a oportunidade, a ocasião de evolucionar nosso eu, nosso espírito, substância incorpórea, dotada de inteligência, onde estão localizados os fenômenos psíquicos, a vontade e a moral.

        Defender-se da vida…

O quanto em nós esta frase tem sentido?

        Mesmo que possam não querer de jeito nenhum ter a percepção do fato de que defender-se da vida está em todos os cantos e momentos de nossa existência, mesmo que possam apenas e tão somente falar das coisas boas, contudo, em algum percalço desta viagem vai ser preciso exercer o direito de proteger-se.

        Meu estimado amigo, defender-se da vida é congênito, espontâneo, inato ao nosso ser, não restam dúvidas nenhuma e, a depauperação, a extenuação de se salvaguardar dos dissabores e escabrosidades desta vida, não devem ser conjugadas lá “no princípio espiritual do homem”, ou seja, também na sua tão encantadora alma.

        Que assim seja.