AGENDA l Sempre tem um gordinho

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(sem essa de politicamente correto)

         Eu sempre digo que mesa de bar, que é onde está o maior exemplo de democracia, é também donde surge as mais sérias ou hilariantes histórias na vida cotidiana dos participantes.

         Para nós “garimpeiros de boas histórias”, é um manancial sem fim.

         Sem dissimulações e tredices e, entre copos e garrafas vibrantes, o lado bom da vida vai se desfiando em verdadeiros livros de cordel, que nem mais estão estendidos nas fieiras atadas nos mandacarus e, sim, nas mesas repletas de ótimos relatos.

         Mesa de bar é um palco onde os artistas expõem as suas artes, é lugar em que a crítica é muito mais do que amistosa, chega a ser parceira das melhores avaliações, que sempre chegam com as boas e felizes risadas.

Pois não é que neste sábado, lá no Marcelão, reduto das boas histórias e dos apreciadores de vinhos, cervejas e “cuba”, patrocinado pelo tio Flávio, se achegou uma belíssima mondongada, de “estalar os beiços”.

Não podia estar melhor…feita no capricho e de um sabor sem igual.

Pois foi então que começaram a contar o feitio dos vários pratos da culinária tanto gaúcha como brasileira, como se preparava, como se executava e isto serviu para se ter boas histórias, ali, na mesa do bar.

Sendo que uma deu-se lá por Porto Alegre, quando seria oferecida uma paella de frutos do mar, para em torno de 20 pessoas, em um sábado, convidadas especialmente para degustar tal prato.

O relato é do Tio Flávio, entre um cálice de vinho e outro e, dizendo ser a mais pura verdade.

A paella de frutos do mar foi designada para um cozinheiro de mão cheia e que dominava o feitio daquele prato, e, já, de vereda, envaidecido, fez a sua propaganda.

Na verdade, o cara era um ótimo cozinheiro, embora enxergasse pouco e usasse aqueles óculos “fundo de garrafa”, mas dominava como ninguém a técnica da paella de frutos do mar.

Chegado o sábado do evento, pessoas com seus nomes de grife foram chegando ao local do almoço com suas esposas…coisa fina…coisa chique…não pensem que era “a galpão no más”, mas tal evento tinha requinte e até colunista social.

E lá estava o nosso cozinheiro dando um trato nos mariscos, camarões, rosa, grande, sete barbas, lula, mexilhão, arroz parboilizado, azeite de oliva em abundância, pimentões coloridos, ervilhas congeladas, pimenta-da-jamaica-moída…em uma “paellera” de tamanho regular a bueno.

A cozinha onde se desenrolava o feitio da paella tinha todos os apetrechos que se podia imaginar e produtos de primeira linha.

É a coisa de que o cozinheiro mais gosta, ou seja, de se esbaldar em só produtos de qualidade.

Quando a iguaria estava se encaminhando para os finalmentes, passa um gordinho pelo cozinheiro, para, dá uma observada e diz:

– Vai faltar arroz.

         Amigo do cozinheiro, o gordinho foi se afastando e ouvindo impropérios do próprio cozinheiro.

         Mexe na paellera, daqui, mexe dali e, nosso cozinheiro começou a admitir que poderia mesmo faltar arroz.

         Será que vai faltar? Será que não vai faltar?

         A turma lá da “sala”, já estava mais do que no aguardo da especiaria que seria servida e, foi então que o cozinheiro, para não passar vergonha, abriu o balcão da cozinha e deu de mão num saco de 2 kg e esparramou em cima de sua já belíssima paella, e pensou consigo: “quero ver aquele gordinho reclamar que faltou arroz…gordinho é sempre assim, sempre está com fome e achando que vai faltar comida…”

– FEITO!! Veio o grito da cozinha. Vamos servir!

         Naquela paellera, linda, colorida, apetitosa e já pelo adiantado da hora, a turma não fez cerimônia e se serviu com muita vontade.

– Mas pelo amor de Deus, o que é isso? – veio o primeiro grito.

– Que coisa horrorosa…ô fulano, isso aqui é uma brincadeira de mau gosto?

– Mas não dá prá comer. – Retrucou uma senhora.

         Para encurtar o caso, o almoço terminou em quatro ou cinco motoboys entregando inúmeras pizzas, lá pelas 16 horas da tarde.

         O que aconteceu?

         Nosso ex-vaidoso cozinheiro, quando resolveu aceitar a sugestão do maldito gordinho de colocar mais arroz, e como enxergava pouco, apanhou o primeiro saco branco em baixo do balcão que achou e tascou na sua já maravilhosa paella…era sal grosso!