Praias lotadas

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Já passou o tempo em que nós, aqui de casa, gostávamos de ir para a praia passar a noite do ano novo. Cassino era sempre a nossa escolhida. É perto, enorme, boa de passear. Não fazemos mais isso. Alugar um apartamento, por pequeno que seja, é caríssimo. A aglomeração urbana cresceu e, mesmo sendo uma praia enorme, fica lotada de gente.

Tem fila para tudo. E tudo é caro.

Agora ficamos em casa. Uma carne assada, na beira de um açude, ouvir música, contar histórias, dar umas risadas, tomar umas cervejas e soltar uns fogos.

É bom, é tranquilo e é barato.

Uns amigos foram para Capão da Canoa no ano novo. Outro dia nos encontramos e então contaram como foi. Congestionamento na estrada, filas em todos os lugares que tentassem acessar. Supermercado, padaria, farmácia. E praia lotada.

Nossa amiga contou que estava na beira da praia, com sua cadeira. Sozinha. Então, resolveu dar um mergulho. Quando voltou, alguém tinha armado uma dessas espécies de barracas que usam hoje em dia, por cima da cadeira dela. Uma família. O homem dessa família falou:

– Armei aqui para garantir o espaço. Mas tu podes continuar sentada aí.

A praia estava tão cheia que não havia mais lugar.

Todas as praias parecem estar assim. Lotadas.

Por uma razão óbvia. A população não para de crescer, mas a Terra não cresce.

Os estudos mais otimistas apontam para um ponto de inflexão lá pelo ano 2050. A população do planeta cresceria até lá e então começaria a diminuir, graças às práticas de controle de nascimento. Vamos somar mais um bilhão ou mais de pessoas até esse ponto.

Por outro lado, estima-se que a capacidade de consumo das pessoas aumente. Assim, práticas mais caras, como veranear, fazer turismo e consumir seja lá o que for, serão acessíveis a mais gente.

O que significa que mais gente irá para a praia, no verão.

Só que as praias não crescem.

Esse é mais um desafio que terá que ser enfrentado. Como organizar essa gente toda. Porque a população deve diminuir no futuro, mas nunca mais seremos poucos.